sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A Divina República


Ai as presidências! Andam engraçadas e deprimentes e de um nível que condiz com o estado do país. Pensar que um daqueles homenzinhos vai ser ou continuar a ser o Chefe de Estado de Portugal não deixa de ser triste. Pensar que todos insultam todos e que não há respeito nenhum nem pelo actual nem pelos candidatos ao cargo não deixa de ser…normal para dizer a verdade. E prova do respeito que tal figura inspira na generalidade da classe política e da sociedade portuguesa. Lá vou eu criticar esta tão honrosa figura e desmascarar o que se quer verdadeiramente dela.

Bem quem vota Cavaco acha que é desta que ele corre com o Sócrates. E é só por isso que votam nele. Ponto. Tal como muitos votaram nele há 5 anos por acharem que ele ia fazer o que disse que não fazia e que não fez mesmo. Mas era isso que se dizia em surdina há 5 anos e é isso que continuo a ouvir 5 anos depois. Ainda é com esse argumento que alguns tentam “comprar” o meu voto. Por mim acho que mais depressa cai o governo no Parlamento do que com o Cavaco. Já antes partilhei aqui o que o Cavaco deveria ter feito há muito tempo se tivesse mesmo sentido de Estado. Este arrastar de situação até ser reeleito só fez mal o país (para o qual ele se está verdadeiramente a marimbar, senão tinha feito o que tinha mesmo de ser feito). Mas parece que durante 5 anos o Sr. Cavaco Silva andou algo distraído, enviou um ou outro recado para o ar que nem sempre fizeram sentido e que nunca tiveram consequência prática nenhuma e agora, de repente, até já diz que se for reeleito não se inibirá de usar os poderes que a Constituição lhe permite (há coisas fantásticas). De repente lembrou-se que afinal o Presidente da República pode fazer mais do comunicações ao país a anunciar que não vai acontecer nada.

Quanto aos socialistas, esses não sabem muito bem para onde se virarem. Do Cavaco têm medo da tal demissão que não veio mas pode agora vir, do Alegre têm medo que seja demasiado socialista e que só dê dores de cabeça no futuro. Pelo meio já se ouviram alguns elogios a Defensor de Moura e alguns partiram para o Nobre mas não adianta grande coisa. A campanha do Alegre anda alegre entre o PS e o Bloco e com insultos e bancos falidos à mistura “a coisa” anda um mimo. É verdade amei o ar especialmente inteligente do Nabeiro quando ontem lhe perguntaram porque apoiava Alegre: “toda a gente sabe que sou socialista, ahahah”. Boa Rui! No dia em que uma tubérculo for candidato pelo PS tem o teu apoio! Se for PS está tudo bem! Ou porreiro páh!

O Nobre, que era uma esperança para muitos independentes e descontentes com os actuais protagonistas da “coisa”, não tem grande jeito para a “coisa” e a continuar assim nem sei se uma votação honrosa consegue ter. Aquela história da galinha foi surreal! É que não ganha nenhum voto por aí mas se ele fica feliz por correr atrás de galinhas tudo bem. Não deixo contudo de lhe admirar o facto de ser o único candidato que vai buscar apoios verdadeiramente à esquerda e à direita. Quanto aos restantes, esses não interessam para nada e em boa verdade já só o Cavaco interessará neste momento.

Quanto ao semi-presidencialismo está provado que é uma treta. Ainda recentemente o António Barreto deu voz ao seu descontentamento com esta “coisa”. Na teoria todos dizem que querem ser quais Reis - de todos os portugueses, independentes, supra e apartidários e moderadores da vida pública – mas na prática todos gostavam de ir para lá governar (alguns nem escondem) e mesmo a generalidade das pessoas que ainda se vão dar ao trabalho de ir votar também querem que eles vão para lá mexer em alguma coisa, cada uma para a sua “equipa”. Outra coisa que amei: os discursos e debates dos candidatos a Presidente da República. Esta coisa dos insultos e de quem é mais honesto ou bonzinho deve ser porque não há mesmo grande coisa de mais interessante para dizer, sem correr o risco de se estar a apresentar um programa de governo. Mais valia isto virar, de facto, um regime presidencialista e sempre era uma palhaçada a menos.

Quanto a mim continuo a querer que o Chefe de Estado seja mesmo de todos os portugueses (ou de um número bastante alargado), verdadeiramente independente, moderador da vida pública e absolutamente apartidário e suprapartidário. Continuo a querer um Chefe de Estado que não se meta nestas politiquices de BPN’s, galinhas e afins. Continuo a querer um Chefe de Estado que seja, de facto, respeitado pela classe política e pela generalidade do seu povo, sem ser arremesso político e que não seja parte activa do degradante espectáculo político a que assistimos no nosso país. Continuo a ser monárquico.

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