sábado, 27 de junho de 2009

As Bicicletas-Restrição

Para quem não sabe, os Ladrões de Bicicletas ocupam um nicho muito peculiar na blogosfera portuguesa. Os seus autores são economistas e/ou professores universitários das áreas da Economia e Sociologia, e lida, essencialmente, com temas económicos - mas com uma restrição que funciona como factor de diferenciação: os seus autores são, ideologicamente, muito mais à esquerda do que é comum em indíviduos com o seu tipo de formação: um velho adágio que corre pelas faculdades de economia enuncia que meia dúzia de aulas de microeconomia são o ideal para se curar um comunista.

Recentemente, os Ladrões fizeram uma breve referência ao manifesto dos 28 senhores que se insurgiram contra o novo leviatão das finanças públicas, o TGV, referência essa intitulada Os economistas-restrição [ou os economistas-problema]. Os autores consideram que não é feita uma lista ampla de problemas sérios da nossa economia (não é esse o propósito do manifesto), não se apontem oportunidades e não se ambicione mais do que travar. A questão que eu coloco é a seguinte: se o projecto é mau, porque é que não há de ser travado? Aparenta ter tido início, neste século XXI, um movimento antagónico ao tradicional português bota-abaixismo - o bota-abaixo do bota-abaixismo, levado ao extremo no caso particular destes indíviduos. Os 28 senhores que traçaram o manifesto não fizeram mais do que lhes incubia - estão em pleno direito (e dever) de exercício das funções de monitorização e fiscalização da actividade democrática do poder executivo e governativo, que é incubido à sociedade civil (à qual os 28 senhores pertencem) em qualquer Estado de Direito Democrático moderno. Uma asneira ia ser feita, e esses senhores travaram-na. E agora são atacados, pela so-called "esquerda democrática" por causa disso.

Gostaria então, em face dos duros comentário d'Os Ladrões, de enunciar uma pequena série de pontos:
  1. Queixam-se da falta de alternativas e de oportunidades presente no manifesto. A contenção da dívida pública nacional, que cada vez mais se aproxima de um percurso explosivo, não é já de si uma alternativa nobre e muito mais respeitadora das gerações futuras, do que uma Torre de Babel para cujo impacto não existem estudos sérios?
  2. Já alguma vez alguém viu o BE ou a CDU lançar alternativas credíveis e exequíveis que se alinhassem, na sua totalidade, com as matrizes ideológicas defendidas? Eu posso andar distraído, mas tal não me tem passado à frente dos olhos. Pela mesma ordem de ideias destes senhores, estes dois partidos (e já agora, toda a oposição) deveria ser excluída da Assembleia da República - afinal de contas, não passam de um bando de chatos que andam por ali a "travar" o progresso!
  3. Repito: é direito, mas acima de tudo um dever, da sociedade civil a monitorização e fiscalização da actividade do poder executivo. É uma das características mais essenciais do nosso sistema democrático. E enquanto a sociedade civil mais protestar, mais intervir e mais decidir, mais democrático se tornará Portugal.
Quer se concorde, ou não, com o propósito do manifesto - que nem é a travagem, mas sim, como o seu nome indica, a reavaliação (ou melhor diria, a avaliação, pois esta ainda nem foi feita de forma minimamente séria) - o facto é que, dadas estas três razões, pouco mais posso fazer do que discordar na íntegra com a posição assumida pelo Prof. Doutor José Reis, Professor Catedrático da Universidade de Coimbra, membro da equipa d'Os Ladrões, e autor do post ao qual esta critique se dirige.

3 comentários:

  1. Os posts normalmente são individuais, mas quase me atrevo a dizer que tens o apoio de toda a equipa neste. Pelo menos o meu é certo.

    A avaliação, apesar de feita em alguns projectos, peca pela distância à realidade actual. Sobre isso basta ouvir o Prof. João Salgueiro no programa da SicN postado ali em baixo.

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  2. O meu também é certo.

    Na óptica do Louça, o Prof. José Reis faz parte dos economistas de "muita fama", em oposição aos 28 de "pouca fama" do primeiro manifesto. Já agora, sabem quem é que também é signatário deste segundo manifesto? O próprio Louça. No que refere aos grandes projectos de obras públicas, Sócrates e Louça vão andar de mãos dadas nesta campanha eleitoral.

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