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terça-feira, 19 de maio de 2009
Rescaldo do Nicola
Ambiente informal, uma meia hora de atraso em relação ao previsto (já é da praxe) e uma sala bem composta de bloggers que responderam ao convite para a “Blogotúlia”, lançado pelo cabeça-de-lista do PSD às Europeias, Paulo Rangel. O convite era para todos os bloggers interessados e O Sensitivo não o podia recusar. Éramos os mais novos da sala, é um facto, mas por esse mesmo motivo, talvez os mais interessados no futuro do nosso país e da UE.
“A Europa e o Interesse Nacional” era o tema da tertúlia e foi isso que se debateu no Nicola. Falou-se do alargamento, do federalismo, da situação económica e do modelo social europeu (não “modelo socialista europeu”, como referiu o próprio), do Tratado de Lisboa e do referendo prometido e não cumprido (falou-se muito do referendo não cumprido e da “falta de higiene democrática”), falou-se de Durão Barroso e Vital Moreia, do Banco Central Europeu, da Identidade Europeia e Portuguesa, do Casamento Homossexual, de umas forças armadas europeias, do relacionamento da UE com o resto do mundo e, por fim, da linguagem religiosa na política (ou da falta dela em Portugal). “Meu Deus!” Falou-se de tudo isto e ainda mais, em cerca de duas horas e meia! O debate foi elevadíssimo e rico (com uma boa contribuição dos bloggers também) e o Paulo Rangel procurou responder a todas as perguntas que lhe foram colocadas, algo que é raro em muitos políticos.
Assumiu-se à direita do PSD (só isso já o faz subir alguns pontinhos na minha consideração) e estando o PSD à esquerda do PPE, posicionou-se no centro deste partido europeu. Paulo Rangel defendeu que a UE se precipitou com o alargamento a leste. Na sua opinião, a UE deveria ter dado uma ajuda financeira muito maior a esses países, quando não eram membros, do que a que dá actualmente, só os admitindo no clube europeu quando tivessem atingido certos patamares. Defendeu que a prioridade do próximo alargamento da UE devem ser os Balcãs e não a Turquia. A Sérvia não deve ser mantida de parte e a Albânia e a Bósnia, por terem comunidades muçulmanas relevantes, poderão funcionar como precedentes a uma eventual entrada da Turquia. Quanto a esta última, defendeu que a partir do momento em que se iniciaram as negociações, estas devem prosseguir de boa fé. No entanto, ressalva que a Turquia está muito longe de cumprir os patamares exigidos, estando, neste momento, a recuar nalguns pontos em vez de avançar. Paulo Rangel defende parcerias reforçadas, sempre que possível, com a Turquia mas que a UE não pode ceder, em caso nenhum, em pontos fundamentais para o ingresso deste país na União. Quanto ao leste que fica agora a leste da União, Paulo Rangel defendeu que a Bielorrússia deve ser uma grande prioridade da UE e que se devem manter conversações longas e parcerias com a Ucrânia. Quanto às relações com a Rússia, Paulo Rangel lembrou João Paulo II que dizia que a Europa ia do Atlântico aos Urais. A cultura russa faz parte da cultura europeia e a UE deve tentar encontrar parcerias com este país.
Assumindo-se federalista (apoiante de uma federação e não de um estado federal), defendeu o Tratado de Lisboa como a fórmula que mais defende os pequenos e médios estados e é da opinião de que o conselho europeu deverá evoluir para um senado (com muito mais peso do que o parlamento). Apesar de não ter nenhuma objecção ou idolatria pelos referendos, acha que há casos em que os referendos são desaconselháveis, devido ao risco de manipulação. Contudo, defendeu que a adesão de Portugal à CEE deveria ter sido referendada (bem como a Constituição Portuguesa). Quanto ao facto do PSD ter prometido um referendo ao Tratado de Lisboa e depois ter voltado atrás na sua promessa, “desculpabilizou-o” pelo facto do líder que voltou atrás na promessa (Luís Filipe Menezes) não ser o mesmo que fez a promessa (Luís Marques Mendes). Já o PS, na sua óptica, não tem desculpa pelo facto do líder que fez a promessa e não a cumpriu ter sido o mesmo (José Sócrates). Mas independentemente do referendo, Paulo Rangel acha que “já existe uma constituição europeia que não é escrita”.
Paulo Rangel defendeu ainda que é necessário repensar o Banco Central Europeu e que é favorável a umas forças armadas europeias, que actuem em missões de paz, mas que nunca devem ser pensadas fora de um quadro atlântico. Apesar de não lhe fazer confusão o casamento homossexual, acha que para Portugal se deveria pensar noutra alternativa (talvez união civil?), tendo em conta que o país ainda é bastante conservador e que muitas pessoas serão contra uma igualdade na união entre pessoas do mesmo género e entre pessoas de géneros diferentes. O cabeça-de-lista do PSD às Europeias, ainda é da opinião de que Portugal não tem sido muito inteligente em aproveitar a mais valia que pode ser para a UE no relacionamento desta com a China (via Macau) e com a Índia (Goa) e nas relações da União com a América Latina (principalmente Brasil), África e Mediterrâneo. Por fim, referiu que é contra o facto de em Portugal e ao contrário da Europa (principalmente nos partidos do PPE), quase ser proibido usar termos religiosos no espaço público. O Estado deve “ser laico mas não laicizante”.
Antes da tertúlia comentei com outros membros d'O Sensitivo-Psiquiátrico que o Paulo Rangel não é o meu candidato. Não será nele que, em princípio, irei votar. Considero que este não é o melhor candidato do PSD para as europeias (que o partido precisa mesmo de ganhar se quer ter esperança de derrotar Sócrates em Setembro). Não tem grande carisma, mas verdade seja dita não é o único a “sofrer” desse mal. Contudo a iniciativa de ontem é de saudar. Mesmo não concordando em alguns aspectos, ontem saí do Nicola com melhor impressão do que entrei. Paulo Rangel pensa Portugal e pensa a Europa e não teve problemas nenhuns em partilhar connosco a sua visão. Ontem saí do Nicola a pensar que, talvez, o PSD volte a merecer o meu voto. E ontem também saí do Nicola com vontade de mais. A “Blogotúlia” de ontem funcionou (muito) melhor do que um debate televisivo ou uma entrevista num jornal. Pode ainda não trazer grandes resultados em termos mediáticos, mas esta é uma parte importante das campanhas do futuro. Houve uma maior aproximação às pessoas que querem discutir política, fossem eles os bloggers presentes na tertúlia, ou os que a acompanhavam através da emissão em directo de alguns dos blogs e que podiam comentar ou lançar perguntas a serem feitas ao nosso anfitrião. Espero que outros, dentro e fora do PSD, sigam este exemplo do Paulo Rangel.
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Percebo o elogio à postura do senhor; fico preocupadissimo com algumas coisas que ele disse (inclusivamente na entrevista ao i). Se ele se considera à direita do PSD, então a esquerda ainda é pior do que eu pensava.
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