quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Injustiça, por Nuno Pombo

A nota que me ficou dos comentários de ontem ao anúncio da candidatura de Cavaco foi a de que ele era um homem sem imaginação e muito previsível. Discordo em absoluto desta leitura. Aliás, só quem andava distraído aquando do episódio das escutas o pode acusar, agora, de pouco imaginativo. Mas a ideia da previsibilidade é a que me rasteira. Quando ele chamou os jornalistas para fazer uma grave declaração ao país, o previsível é que ele, de facto, fizesse uma grave declaração. Mas não. Deu um chuto nas legítimas expectativas e pôs-se a falar de tricot ou de um qualquer anticiclone. Quando seria previsível que varresse o PM, por razões bem mais sérias do que as usadas pelo seu antecessor para correr com outro que tal, pressionou a oposição a entender-se com ele. Quando zurziu de alto a baixo diplomas absurdos que nos queriam impingir, dizendo deles o que Maomé não disse do toucinho, eis que, no mesmo passo e sem grandes problemas de consciência, promulgou-os à primeira. Quando seria mais do que razoável esperar vê-lo entrar ontem no CCB de gravata preta e ar pesado, eis que surgiu de azul celeste e sorriso confiante. Quando se esperaria ouvi-lo reconhecer as razões (muitas e boas) pelas quais não poderia recandidatar-se, explicou que o país sem ele não era. Quando se pensaria que ele, então, iria dizer-nos o que tinha de ser dito, atirou-nos, impressivo, cartazes e contabilidade de mercearia. Que injustiça. O Prof. Cavaco tem imensa imaginação e uma tremenda capacidade de nos surpreender. Tem isso tudo. Só não tem vergonha.

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