domingo, 27 de setembro de 2009

Prognósticos

Começo com um prognóstico insusceptível de confirmação: estou certo de que algumas das sondagens realizadas estão grosseiramente erradas, sendo inexplicável que numa semana de campanha esgotada e pouco repercutida nos media se tenha assistido a tendências tão claras e estruturais como a forte descida da CDU no Alentejo e a subida sustentada do CDS a norte, que todas as sondagens (na sua pequena amostra!) procuraram retratar, e até em alguns casos, a transferência de votos, geograficamente generalizada, entre o PS e o PSD, que outras sondagens haviam defendido não conterem um número significativo de indecisos entre si.

Não arrisco mais neste prognóstico, mas acredito pouco, devido a exemplos passados (Autárquicas 2001 e 2005, Europeias 2009) em sondagens que dão subidas explosivas ao PS em vésperas do acto eleitoral. Curioso o facto de a empresa que mais procurou investir (existem custos, recordemos) em sondagens credíveis, com "n sufficiently large", a Eurosondagem, nada ter publicado na última semana e nunca ter atribuído uma probabilidade estatística de vitória inferior a 30% ao PSD.

(Faço um aparte ainda acerca da EuroSondagem. Num painel de discurssão na RTP2, o seu resposnsável máximo reconhecia há dias a enorme dificuldade que para si representava um custoso controlo interno dos funcionários da empresa, dadas as constantes pressões dos partidos. Pena ter faltado o Prime Time.)

Um outro prognóstico insusceptível de erro é que uma vitória do PSD provocará uma "sangria" imediata em alguns dos media cujos principais players só podem estar totalmente proscritos após a cobertura mediática enviesada a que temos assistido da campanha. Curisosas as diferenças entre a televisão e a rádio públicas, sendo que na primeira se situará provavelmente o inimigo nº1 do anti-poder (não sei se a questão é partidária), de que até os principais jornalistas da "televisão do poder" (nacional, local, económico...) se insistem em demarcar. Curiosa a antítese, não menos enviesada, que tem feito a TVI.

Mas, enfim, chega a altura de prognósticos mais arriscados. Não creio que a CDU bata os 7% como vem sendo apontado, aproximando-se do único resultado dessa ordem que já teve, o pior de sempre, em 2002. Não foi a mesma CDU que conquistou 10,7% dos votos nas Europeias, o que corresponde a... mais de 5% dos votos nas eleições hoje, com metade dos habituais eleitores em casa? E que venceu nos três distritos do Alentejo, com resultados regionais que hoje lhe poderiam dar um crescimento da sua bancada parlamentar? Ainda para mais, estes contam-se entre os distritos menos abstencionistas em eleições europeias.

E o Bloco? Não acredito, embora me satisfizesse bastante, que atinja os 18% e tenha um "efeito PRD" sobre a votação do PS. Poderá ter dois dígitos? Está talvez um pouco dependente dos valores finais da abstenção, da neblina que se faz sentir em muitas regiões do país e do "momento da verdade" que os eleitores ideologicamente mais à esquerda e que alguns descontentes viverão perante o boletim de voto.

A ver se o voto útil conseguido nas sondagens também aqui funciona. É possível que os estudos aqui estivessem correctos, dado o conteúdo dos debates e da campanha. Mas as intenções de voto útil nunca ganharam eleições. Parece, de todo o modo, o maior candidato ao 3º lugar do pódio, dado o perfil mais abstencionista do seu eleitorado nas eleições de Maio, que mitigará a sua descida dos 10,7% de partida.

Por fim, o centro-esquerda-direita. Como preferirem chamar-lhe. Tudo aquilo que está para lá da cortina pseudo-central do PS. Aqui o problema do "momento da verdade" é ainda mais premente. O CDS pode descer. Não quer dizer que desça. Mas pode. Desta vez as sondagens trouxeram-lhe "pressão alta".

E em 2005, certo que com o desgaste do Governo, não atingiu nem de perto os 12% que alguns davam como naturais (depois de uma óptima campanha) e quedou-se pelos 7,2. Muita gente hesitará antes de tocar a tal "música celestial" para os ouvidos de Sócrates. Tudo aquilo que Paulo Portas nunca quis interpretar, mas que os números fazem ecoar entre a plateia das outras forças políticas. Poderá resistir? Claro. O apelo ao voto útil foi silenciado pelos media e há alguma frustração entre o eleitorado português à direita, acumulada ao longo de décadas. Mas que os indecisos estão sobretudo aqui, estão. Recorde-se que a base de partida ronda os 8,5% e, que, assim sendo e com menos abstenção, a tendência é de descida, mesmo que ligeira.

O PSD é sem dúvida o partido mais imprevisível quanto ao seu resultado. Custa-me um pouco crer na tendência descida apontada face à base eleitoral de 31,7% dos votantes nas Europeias. Acredito mais numa subida ligeira, até por comparação aos 28,7% que alcançou Santana Lopes em 2005, de resto excedendo o "target" que lhe era então atribuído. Poderá beneficiar do voto útil vindo da direita e, quem sabe, de outros lugares.

Quanto ao proto-vencedor das eleições, recorde-se que parte com uma base de 13/14% dos votantes, correspondente aos 26,7% que teve nas Europeias. Tendo em conta que há 50% do eleitorado em disputa, mesmo que com ligeiras transferências de voto do BE (a confirmar), é fácil fazer as contas e descobrir um tecto por volta dos 37/38%. Será suficiente para a anunciada vitória. Depende do comportamento dos indecisos silenciosos e remotos (pouco estudados e pouco estudáveis, respondem pouco aos estudos, nunca foram filtrados e são muito poucos numa amostra de n menor que 1000 ) que, tendo-se abstido em Maio, vão optar entre dar uma vitória tagencial ao PS (por hipótese entre os 34 e os 38%) ou uma ainda mais tagencial ao PSD (que ninguém parece acreditar que descole dos 35%, na melhor das hipóteses).

Gostava por fim que o MEP elegesse um deputado, em condições normais. É possível e até pode roubar um deputado ao PS em Lisboa, mas há mais uma vez, o perigo de dispersar o voto ao centro e à direita e tocar mais uma melodia agradável ao ouvidos de Sócrates. Deveria o pragmatismo, revelado muitas vezes pela esquerda divergente, ter levado à formação de uma AD? Nunca o saberemos, a verdade (!) é que há muito de construído no resultado que o PSD de Ferreira Leite possa ter e que, sem este percurso, se poderia facilmente situar bem abaixo dos 30%. Mas as probabilidades de vitória nem seriam inferiores às do PSD; fariam isso sim, morrer a prazo os tradicionais partidos da direita.

Dito tudo isto, que as sondagens de "painel" fiáveis que os partidos encomendam e as outras, telefónicas ou presenciais, aleatórias mas nada críveis, que são publicadas sejam rebatidas pela única sondagem que interessa. E que quem quer que ganhe cumpra o seu programa que aqui está a ser sufragado. Sem receio de censuras. Afinal quem é censurado, se for inteligente, tem tudo para conseguir maiorias, como outrora o fez Cavaco Silva.

Assim vistas as coisas, talvez estas eleições sejam mesmo muito importantes. Que ninguém fique em casa!

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