domingo, 5 de julho de 2009

Sedes

A conferência da Sedes começou com uma breve apresentação do Prof. Luís Campos e Cunha desmarcando a organização e a conferência de tendências politicas ou eleitoralistas, salientando este que os objectivos da Sedes passavam pela discussão do estado da democracia e do nosso país e não das políticas deste ou daquele governo. Claramente foi uma declaração a avisar os media de que não iriam ser feitos ataques políticos durante o dia e provavelmente teve resultado, dado que depois de almoço a maioria das câmaras se tinha ido embora.
A conferência propriamente dita começou com uma palestra bastante interessante do Prof. Robert Findlay em que este fez uma breve análise da globalização e dos seus mais de 500 anos de história, considerando os portugueses como “culpados” desse fenómeno. No final fez uma breve análise do estado económico do mundo e nomeou alguns países que ele considera que terão desempenhos económicos de excelência no futuro. Rússia, Índia, China, Brasil, EUA e tigres asiáticos foram os países destacados. Na sessão de perguntas que se seguiu o Prof. João Salgueiro abriu as hostilidades (no seu habitual tom provocativo) com uma pergunta sobre a Europa (que não tinha sido referida naquele conjunto de potências) à qual Robert Findlay não respondeu, preferindo ressaltar o papel da Europa enquanto veículo democratizador. A ideia que fica é que a Europa continuará, para o Prof., a crescer a taxas mais ou menos constantes e baixas e que o seu papel no mundo é o da educação e mediação e não o de liderar a mudança e o desenvolvimento. A pergunta seguinte foi sobre a opinião do Prof. sobre África e foi respondida com lugares comuns (se os problemas democráticos forem resolvidos, se houver instituições credíveis, etc.), assim como a última pergunta, da lavra do Eng. Henrique Neto.
Seguiu-se um breve intervalo para café e a intervenção do Prof. João Salgueiro sobre a crise e, em especial, sobre a economia portuguesa. No seu estilo habitual o Prof. considerou que os políticos portugueses têm dado “doping à economia” e que atravessamos uma grave crises estrutural e de competitividade, fazendo um apelo para que fossem ali discutidas durante o dia formas de ultrapassar essa crise. O Prof. falou de alguns erros cometidos como o facto de pensarmos que somos demasiado pequenos para sermos competitivos, ou o de pensarmos ser demasiado periféricos, assim como de alguns complexos, nomeadamente a dependência da UE, – “Portugal não pensa sem ouvir a União Europeia”, “Queremos ser mais europeus que os outros” –, ressalvando no entanto que essa dependência não era unicamente portuguesa mas que representava um problema que devia ser resolvido. Referiu-se ainda ao facto de o objectivo principal da adesão portuguesa à União europeia não estar a ser cumprido desde o início do século (convergência para a média europeia) e de ninguém falar disso, – “Eu não queria dizer trapaça porque acho muito forte, arranjem-me aí uma palavra mais simpática” – dizendo aí que se a banca portuguesa tivesse convergido para a média europeia em 30 anos, o dito objectivo para Portugal, já teria sido comprada pelos franceses.
Outro dos complexos referidos foi o da maioria dos portugueses contra os empresários e empreendedores – “Os empreendedores são uma espécie sujeita à caça sem reserva” – e disse que os nossos empreendedores não eram piores do que os do resto da Europa, pois “não vejo nenhuma fila em Badajoz para entrar em Portugal”. Referiu-se ainda ironicamente ás directivas europeias de que Portugal está sempre à espera dizendo que não é preciso haver preocupações com a estabilidade democrática em Portugal pois “há uma directiva europeia que proíbe os golpes de estado”. Seguiu-se nova sessão de perguntas a que o Presidente da associação de bancos respondeu da mesma maneira, ressalvando o nosso problema de competitividade e a necessidade de o resolvermos. Saliento no entanto a sua resposta a uma pergunta em que falou dos seus tempos de governação, dizendo que quando esteve no governo a sua missão não foi, nem podia ser, alterar os problemas estruturais do país, mas sim aguentar o governo de modo a que se pudesse fazer a revisão constitucional. Fez a campanha seguinte porque achou que deveria, em coerência com as ideias defendidas, fazê-la, mas que não gostou do que viu ao nível dos partidos já nessa altura. As palavras foram mais ou menos as de que já tinha saído do governo de Marcelo Caetano quando percebera estar iludido ao pensar que ele faria aquilo que mais tarde foi feito em Espanha, e que, nessa altura, decidira não participar em mais nenhum governo. Só o período de excepção em causa o fez voltar atrás.
O estudo sobre a democracia ficará em breve disponível no site da sedes (eles recomendam que sigamos o blog pois poderá haver algumas intervenções lá) portanto não me vou alongar grandemente sobre o mesmo. Basta dizer que os portugueses acreditam que a democracia funciona, só não acredita nos seus agentes políticos no momento nem que a sua voz seja ouvida por estes. Os portugueses não acreditam igualmente que a justiça não seja influenciada pela política e duvidam também da total isenção das televisões (será por isto que o congresso teve tão pouca repercussão mediática?). Das perguntas feitas a Pedro Magalhães, autor do estudo, ficaram no ar algumas sugestões para o futuro, nomeadamente a do estudo de quanto valoriza cada português a democracia.
Chegados finalmente à mesa do novo contexto económico, cujos participantes foram escolhidos por Vítor Bento, foi curioso notar como desde o início o tom dos oradores foi diferente. O Professor Silva Lopes começou, falou sobretudo da crise conjuntural internacional e portuguesa, defendendo o investimento útil (importa ressalvar a palavra útil, porque não a vi no jornal que li à bocado) que não tem sido feito nos últimos anos. Defendeu igualmente a subida do investimento para o nível de 20% (está nos 18%, mas já esteve perto dos 40, sem que tenhamos tido melhores resultados) e disse sobre o défice e o endividamento que mesmo ele, que sempre alertou nos últimos anos para a necessidade premente de resolver esses dois problemas, achava que Portugal devia investir mais, chamando a atenção que o actual défice previsto para Portugal é inferior à média prevista para a UE pela OCDE. Há pouca margem de manobra, é certo, mas deveríamos utilizá-la, foi essa a ideia base a reter, sendo que investimentos como o TGV são considerados dispensáveis, pelo seu cariz internacional e pelo tempo elevado que leva a concretizar. “As senhoras que vão todos os dias ao cabeleireiro”, foi a expressão utilizada para sintetizar a sua ideia do que seria o bom consumo e investimento (em bens nacionais e dirigido ás PME).
O professor Daniel Bessa optou por focar-se inteiramente na crise estrutural. Foi bastante duro com as politicas seguidas nos últimos anos e defendeu a necessidade urgente de Portugal se tornar mais competitivo. Perguntou porque não se via, por exemplo, a saúde como um transaccionável, e esteve, basicamente, na mesma linha que o professor João Salgueiro. Chamou no entanto a atenção para o seu desacordo com os números do Professor Silva Lopes sobre o défice, dado que no primeiro trimestre houve uma quebra de receitas de 20% e mesmo que esta fique apenas em 10% no total do ano o défice, tendo em conta essa queda, nunca poderá ficar abaixo dos 7%. “Entre 7 e 14 há muito espaço” disse, e serviu-se disso para se opor à subida do investimento e para pedir cuidado com as contas públicas pois o problema estrutural das mesmas “não foi corrigido nos últimos 5 anos”.
O nosso bem conhecido José Tavares fez uma apresentação mais técnica, sendo que por mais técnica se entende quase uma aula, em que focou alguns aspectos interessantes, nomeadamente o da crise ser uma oportunidade para reformas profundas, pois o custo de oportunidade de as fazer decresce, salientando no entanto que duvidava que houvesse espaço para isso em Portugal. Sobre a crise do sistema financeiro, já debelada, considerou-a como natural e como o instrumento que permitia aferir sobre a utilidade dos novos produtos financeiros, dizendo que os maus foram recusados e afastados e que os bons, que criavam valor, ficariam.
A sessão de perguntas que se seguiu foi aberta por uma dura intervenção do Professor João Salgueiro, pedindo que a discussão se focasse na crise estrutural portuguesa e criticando os participantes por não terem estado presentes de manhã e perderem tempo a repetir algumas coisas que já tinham sido ditas (nomeadamente por ele próprio). Respondendo a algumas palavras do Professor Silva Lopes sobre a necessidade de mais regulação do sistema financeiro disse que no caso português já havia demasiada regulação e que era preciso ter cuidado com isso, baseando a sua resposta no facto de os bancos que tinham tido problemas em Portugal os terem tido devido a um caso de policia e a má gestão e não à crise financeira e à exposição a produtos tóxicos propriamente ditos. Voltou a falar do cuidado a ter com as ditas “normas europeias” que viriam regular tudo, revelando o seu temor de que se possa verificar um excesso de burocracia tal que paralise a actividade bancária.
Os participantes tiveram 5 minutos cada para tentar responder brevemente a todas as perguntas colocadas e, desses 5 minutos, destacaria a última intervenção do Professor José Tavares, falando finalmente da situação portuguesa, questionando a industrialização defendida por alguns dos participantes (pois para sermos competitivos na industria teríamos de baixar salários) e falando do caso Irlandês em que, há 5 anos, foram recusados projectos de produção automóvel como o da Auto-Europa pois não era aquilo que eles consideravam o lugar da Irlanda produzir. Nem o da Irlanda nem o da Europa aliás, segundo os próprios Irlandeses, pois os custos de produção seriam sempre muito mais elevados do que noutros países do mundo.

O Galacho é livre de comentar longamente e preencher muita coisa de que a minha cabeça leviana se esqueceu. Agora com licença, cumpri a promessa e vou dormir. Até daqui a um mês.

2 comentários:

  1. Formiga estive aqui a escrever um comentário ao teu post mas pelos vistos foi demasiado grande (pus agora no word e parece que são três páginas e só podem ser 4096 letras (seja lá isso quanto for...) assim quando eu conseguir encurtar aquilo comento... já não será hoje lol
    Abraço

    ResponderEliminar
  2. O galacho, faz-te um home, se quiseres deixa-te de festivais de verao e envia-me isso que eu publico.

    abraco

    Formiga Preta (nova especie nao identificada)

    ResponderEliminar