sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sedes II

Olá a todos. Peço desculpa pela demora, mas aqui estão, finalmente, as prometidas palavras do Galacho sobre o congresso da Sedes. Finalmente ipsis verbis aquilo que não coube em comentário...

"Bem já que o excelentíssimo Formiga me referiu no seu post (tal como já me tinha pedido pessoalmente) cá venho eu dar a "minha achega" em estilo de comentário.
Eu tinha pensado fazê-lo numa vertente mais caricatural do que é um congresso sobre o estado da democracia (que não foi bem isso...) para duas crianças (vá!... dois jovens) no meio de uma "plateia" recheada de pessoas de renome da nossa sociedade, nas mais diversas áreas (mas principalmente na economia) e, acima de tudo, na faixa etária situada maioritariamente nos 60+. No entanto, depois de uma "acta" com tamanha qualidade, terei que desviar o foco do meu comentário para uma análise mais séria do que se passou e do que foi (ou não) discutido. Espero não cair na tentação do meu propósito inicial...
Antes de mais, gostaria de ressalvar algumas coisas que me parecem importantes. Primeiro, a tal ausência de pessoas da nossa idade ou das gerações imediatamente a seguir. Não que eu estivesse à espera de ver uma plateia repleta de estudantes (já que quer se queira, quer não, eram 60 euros ... e isso ainda pesa no nosso orçamento) mas, já da geração seguinte (30/40 anos), estava à espera de ver bastantes, já que teórica e supostamente já têm um rendimento que lhes permite gastar 60 euros num congresso como este, mas…o que é facto é que nem vê-los (a não ser talvez um ou outro na parte da tarde... mas, ainda assim, muito poucos para o que estava à espera). Bem cada um poderá tirar as ilações que quiser, agora, que eu não acho normal, não acho...
Segundo, o já referido desinteresse dos media, face ao conteúdo do próprio congresso. Este é relativamente justificável já que foram algumas vezes citados ao longo do congresso e não pelas melhores razões, devido à falta de informação imparcial e à falta de debate de ideias relativamente a questões fulcrais (como a estratégia para o país). Nenhum meio de comunicação social vai admitir a fraca qualidade dos seus conteúdos e por isso … mais vale "zarpar" da sala enquanto é tempo.
Terceiro, a ausência de pessoas com elevados cargos em partidos políticos. Este facto, a mim, pessoalmente, agradou-me já que, tal como o Prof. Campos e Cunha declarou, garantiu que aquele congresso não iria ter qualquer conotação política "fosse para que lado fosse" tratando-se assim, acima de tudo, de um debate de ideias (e não cores políticas). Não deixa também de ser um sinal de como os partidos "se estão lixando" para a opinião das pessoas sobre "eles" e a própria democracia, o que também é deveras revelador (mas não surpreendente, creio …).
Quarto, eu, muito sinceramente, achava que o congresso ia ser algo diferente, principalmente com a palestra do Prof. Ronald Findlay e do Dr. Pedro Magalhães, a ser mais focada no factor democracia e na qualidade da mesma, nomeadamente dos seus agentes (já que são eles que "lhe dão qualidade" ou não). Porém, o debate foi focado essencialmente na vertente económica da situação actual e em possíveis rumos para o futuro. No entanto, para mim, que gosto bastante de pensar sobre os mais diversos temas, mas gosto pouco de ler para me informar sobre eles e sendo este(s) (quer a democracia quer a economia) tão importantes, o congresso foi interessantíssimo e valeu bem "o investimento".
Quinto, ainda de realçar a ausência do Prof. Medina Carreira que depois das suas últimas intervenções nos media, eu gostaria tanto de ter visto no congresso, mas que, pelos vistos, não foi possível.
Após este longuíssimo preâmbulo, vou passar à análise do conteúdo das diversas intervenções.
Começando pelo início como deve ser, a intervenção do Prof. Ronald Findlay foi bastante interessante, como já disse o Formiga, e no fundo funcionou como um resumo de um semestre de aulas com o Prof. Luciano Amaral com enfoque primordial sobre a vertente da globalização. Desde os "descobrimentos ibéricos", aos impérios francês e inglês, respectivamente primeiros e segundos impérios coloniais, ao caso do Japão e ao porquê de este não ter sido colonializado como por exemplo a China e a Índia, foi uma boa lição de História. Depois revelou ainda que achava que não era sustentável um país com 5% da população mundial (os EUA) deter 25% da riqueza mundial e que, portanto, esta crise teria que acontecer um dia para "regularizar" essa situação. Disse ainda que não vê com maus olhos uma "melhor distribuição mundial dos rendimentos" e acha que esta crise é uma oportunidade para adaptarmos o nosso estilo de vida a essa inevitabilidade. Referiu ainda os B(rasil)R(ussia)I(ndia)C(hina) como os que se comportarão melhor e que por isso "beneficiarão" com esta crise. Seguiram-se as perguntas em que se ficou por respostas vagas e eminentemente teóricas, que apesar de tudo deram para retirar que vê a Europa como potência social (e por isso com um papel "educador") mas não como uma potência económica (deixemos isso para os EUA... que isso é que lhes dá jeito).
A intervenção do Prof. João Salgueiro, que começou pelas causas da crise internacional e que depois se focou mais no caso nacional e dos erros e das oportunidades que podemos aproveitar. Assim, começou por dizer que a iminência da crise estava visível para todos devido à falta de regulação, à subida de preços do imobiliário nos EUA e a especulação desmedida existente. No entanto, ninguém teve coragem para travar o crescimento que daí adveio e chegou-se a considerar que esses factores como "dopping útil à Economia". Isto levou à crise bancária e, associado ao crescimento da China, à crise de competitividade em vários sectores, que depois se verificou, e que todos conhecemos. Relativamente a Portugal, tal como foi referido pelo Formiga, considera que "Portugal não pensa", não pensa antes de fazer alguma coisa porque está à espera que a UE decida e não pensa depois porque aceita as directivas da UE cegamente. Mencionou ainda algumas coisas que podem ser facilmente melhoradas como a existência de uma política estratégica de exportação a nível mundial e não só para a UE (já que a nossa posição dita "periférica" nos dá grandes vantagens de relações com a América e que por causa dos países de língua portuguesa temos ainda relações privilegiadas com a China (só não vão para a China apregoar a nossa mão-de-obra barata, por favor… - digo eu)) e ainda a péssima estratégia de "convergência para a média Europeia em 30 anos", aquando da adesão à UE, considerando-a uma "estratégia de falência" (ainda para mais quando em vez de convergirmos divergimos) e dando o exemplo do sector bancário que se tivesse feito o mesmo já teria falido há muito. Falou ainda da importância do investimento em bens transaccionáveis já que a melhoria da economia só poderá ser conseguida através do aumento das exportações.
Depois do almoço foram revelados os resultados do estudo numa intervenção que a mim pessoalmente me decepcionou. Isto porque o Dr. Pedro Magalhães passou uma boa parte do seu tempo a explicar como fazer um estudo daquele género e quantas perguntas precisavam para cada coisa, porquê, etc., etc. e muito sinceramente, ali, o que menos interessava, era isso. Depois também pecou pela falta de ambição nas conclusões que poderiam ser tiradas do estudo nomeadamente relativo à fraca qualidade das pessoas "que fazem política" em Portugal ... ou seja "à falta de política". Houve ainda uma pergunta bastante pertinente nesta fase de uma senhora que, segundo a própria, formou a Fenprof e se encontra agora reformada ("graças a deus...", segundo a mesma) sobre o papel da educação em todo este processo... Se toda esta crise não tem como base uma crise na educação que beneficia cada vez mais a mediocridade em vez da excelência (tão evidente que isso é no objectivo de convergir para a média europeia em 30 anos...) ... eu concordo com a questão levantada, mas creio que essa só tem solução a longo prazo e, portanto, apesar de ser urgente a sua resolução, é mais premente a adopção de medidas que resolvam os problemas gravíssimos que temos de curto/médio prazo.
Sobre a mesa do contexto económico creio que o Formiga fez um excelente resumo do que se passou, sendo que eu gostaria de realçar alguns factos. Primeiro, a opinião geral de que Portugal vai crescer pouco no médio/longo prazo, o que cria graves problemas. Depois, a necessidade de redução dos gastos nesse mesmo horizonte temporal, já que, como é sabido, são eles que determinam a carga fiscal e a dívida do Estado o que, tendo em conta o peso dos mesmos no PIB real, torna esse problema gravíssimo para o nosso país. Terceiro, a ideia de que, em termos de investimento, é preciso qualidade e não quantidade para se poder rentabilizar da melhor maneira o dinheiro, o que é tão importante em tempos de crise, como os actuais (isto depois de ter sido mostrado pelo Dr. Silva Lopes que apesar de termos tido níveis de investimento elevados tivemos o mesmo crescimento que países com níveis mais baixos)... isto vem em linha com as políticas de ensino que deviam beneficiar a excelência em vez da mediocridade... parece que é estratégia política (mas isto, sou eu a pensar alto...). Quarto, a importância da implementação de medidas severas e extremas, já que ao contrário do que acontece normalmente, as medidas graduais não têm custos menores. Por fim, de realçar a importância do aumento da competitividade, nomeadamente através de mais e melhor concorrência, em sectores específicos em que Portugal tenha vantagens comparativas e não em sectores como o automóvel em que isso não é possível, com particular enfoque nos bens transaccionáveis, nunca esquecendo a necessidade da diminuição dos preços nos não transaccionáveis, já que, se isso não acontecer, o custo dos transaccionáveis continuará alto.
Por fim, o Prof. José Tavares disse ainda que se deveria ter uma política diferente relativamente às empresas que declaram falência, já que, em vez de proteger empregos, o Estado devia facilitar a integração das pessoas no mercado de trabalho porque esses casos são maioritariamente casos de polícia (não merecendo essas empresas a ajuda do Estado).
Houve ainda uma componente interessante deste congresso, que foram os cafés e o almoço em que para além de se "comer e beber" se via que servia de networking e de partilha de ideias e de contactos entre os diversos intervenientes, o que fazia destas alturas não um tempo morto mas, como que uma continuação do que era feito na sala de conferências, mas num ambiente mais informal.
Muito mais poderia ser dito sobre este congresso (sobre o seu conteúdo e sobre as nossas "aventuras") mas fica aqui o essencial do que foi para quem não teve a possibilidade de comparecer.
Peço desculpa por qualquer erro ou pela escrita excessivamente "confusa" mas não me apetece rever o que escrevi porque a hora já vai adiantada...
Cumpri assim a minha promessa ao Formiga. E já sabes para a próxima avisa que eu vou :P
Abraço"

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