segunda-feira, 31 de maio de 2010

As presidenciais

Já lá vão uns mesinhos, mas logo no início deste ano escrevi isto. Os acontecimentos dos últimos meses vieram a revelar-se quase tudo o que se esperava. Ontem o PS deu, quase por unanimidade, o seu aval ao “querido líder” José Sócrates para tornar oficial o apoio ao candidato poeta. Por outro lado, a demora nesse apoio revela o quanto essa mesma unanimidade é fraca. É mais do que óbvio que o Manuel Alegre não é mesmo desejado por muitos socialistas para ser Presidente da Republica mas também o PS tinha que dar o seu apoio ao Manuel Alegre porque sim. E porque sim é mesmo a melhor explicação a dar, mesmo que muitos não quisessem, isto já estava decidido há muito tempo e não dava para fazer “a coisa” de outra maneira. Alegre impôs-se ao PS como Sampaio o fez há 15 anos.

Temos então um candidato da esquerda com o apoio do PS, do BE e dos renovadores comunistas contra um candidato da direita com o apoio do PSD e do CDS. Pensar também que poderá surgir outro candidato da área da direita com o apoio dos católicos conservadores é uma ideia de delirantes como o Santana Lopes. E não deverá acontecer porque não (hoje estou numa de reduzir as justificações ao nível das de uma criança). Dúvidas houvesse, Bagão Félix já disse que não estava para isso. Tudo como havia previsto, portanto.

Tudo não. Em Janeiro não havia o factor Nobre. Não fazia parte da equação e é daquelas coisas inesperadas que vão tornando isto engraçado. Devido a Fernando Nobre, o PC está a aproveitar para fazer birra por ter sido marginalizado por Alegre e está numa de estragar a unanimidade da esquerda que se previa. Deverão mesmo avançar com um candidato próprio mas o tempo dirá se desistem antes do acto eleitoral, como Jerónimo fez a Sampaio há precisamente 15 anos, quando este se impôs.

E Nobre é, até ver, a pedra no sapato tanto de Cavaco, como de Alegre. Nobre é mesmo independente, mais do que Alegre era em 2005. Não tem apoio de nenhum partido, nunca pertenceu sequer a nenhum e no ano passado conseguiu ser mandatário do BE para as Europeias e do António Capucho (PSD) para a autarquia de Cascais. Está mais conotado com a esquerda mas também é simpatizante da causa monárquica. E Nobre consegue, assim, ser o candidato com um perfil mais semelhante a um Rei que se perfila para o próximo acto eleitoral. Basta começar a falar com algumas pessoas e vemos que vai buscar simpatizantes à direita e à esquerda. Nobre é bom para quem não quer Cavaco e também é bom para quem não quer Alegre. E só a título de curiosidade é o candidato com mais apoiantes no facebook. Poderá ser o vencedor das próximas eleições? Não acredito muito nisso, mas desde já uma previsão: se por acaso conseguir ser o segundo mais votado e conseguir ir a uma segunda volta, será quase de certeza vencedor. Pelo menos já conseguiu a proeza de tornar estas eleições mais interessantes e sempre a dignifica um pouco mais, ao ser alternativa à luta da esquerda vs. direita. Para um monárquico como eu, é impensável o mais alto representante da Nação estar refém dessa luta e do sistema partidário.

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