sexta-feira, 18 de junho de 2010

É nestas alturas que a religião me faz mais comichão



Lembro-me de quase no final do ano passado estar em casa de um amigo, com mais outros tantos, e de se ter começado a falar na origem da vida. Lembro-me de se estar a falar na evolução e de se ter começado a falar na bíblia e lembro-me de algo que me marcou profundamente nessa noite. Um dos intervenientes dessa discussão acabou por dizer que acreditava que nós descendiamos de Adão e Eva - os primeiros seres humanos criados por Deus. Assim, sem tirar nem pôr. Tal e qual como vem na bíblia. Era nisso que ele acreditava e muitas descobertas (que se podem provar e verificar) dos últimos séculos feitas por algumas das mentes mais brilhantes que já pisaram a Terra eram puras fantasias de loucos comparadas com o que vinha escrito na bíblia. Pode parecer a gozar mas ele levava a bíblia à letra. Aparentemente acreditar que o homem vem da terra e a mulher da costela do homem faz muito mais sentido do que acreditar que nós somos primos dos macacos (apesar de hoje em dia se saber que nós partilhamos quase 99% do nosso ADN com os chimpanzés).

Eu sei que nos EUA há movimentos religiosos mais para o fanáticos que tentam proibir a Teoria da Evolução de ser ensinada nos estabelecimentos de ensino. Já vi alguns documentários sobre isso mas estamos a falar dos EUA, damos sempre um desconto às populações semi-analfabetas do interior americano. Mas quase nunca se ouve falar da Europa. A Europa do séc. XXI não é assim. Essa noite marcou-me bastante, pois foi a primeira vez que ouvi alguém que conheço a dizer tal coisa da boca para fora. E se isso já era grave, mais grave ficou no segundo seguinte quando outra pessoa concordou. Contudo não fui o único a ficar indignado com o que ouvia e um dos que ficou mais indignado até é católico e dos praticantes. “Estamos no séc. XXI, não podes levar a bíblia à letra!”, dizia ele.

Estou a contar este pequeno episódio porque, bastante recentemente, outra pessoa me disse que começa a achar que o Darwin até tinha razão. Começa mas ainda não tem a certeza (acho). Começa mas até agora também levava a bíblia à letra e a bíblia fala da história do Adão e da Eva. A bíblia não fala em Evolução, não fala num planeta com 4,5 mil milhões de anos, não fala, sequer, nos dinossauros. A bíblia fala na tal história da areia e da costela e fala num planeta com alguns milhares de anos só. A bíblia é um livro de fé. Não é um livro de ciência ou razão. Aparentemente e em pleno século XXI há bem mais católicos do que os que eu pensava que se esquecem disso.

A evolução das espécies por selecção natural é um facto comprovado por sucessivos avanços e descobertas em diversas áreas da ciência e essas descobertas vão desde a anatomia e da paleontologia, até à embriologia ou até ao nível celular e molecular. Podia começar a explicar um a um, mas nunca mais saía daqui e o post já vai para o longo. Posso apenas afirmar que nem o próprio Charles Darwin tinha noção do quão estava certa a sua teoria, pois no século XIX havia coisas que ele pura e simplesmente ainda não podia explicar. Não acreditar nisto é como estar um dia de Sol e não acreditar que está Sol, só porque não. O Sol não vai desaparecer só porque nós dizemos que ele não está lá, apesar de todas as outras pessoas o conseguirem ver. E como diz o título do post, é nestas alturas que a religião me faz mais comichão.

O fanatismo existe e não é só entre os muçulmanos. O fanatismo existe e não se revela apenas no bombista que se suicida no meio de um autocarro. Uma professora disse-me recentemente que a diferença entre o cientista e o religioso é que o primeiro precisa de ver para acreditar e o segundo acredita para ver. Acho que esta lógica consegue explicar o que vai na mente dos católicos que levam à bíblia à letra, pois se eles acreditam para ver, também basta não acreditarem para não verem. Por mais que se explique que 1+2=3, de todas as maneiras possíveis e mesmo trocando a ordem do 1 do 2, basta não querer acreditar que então não vemos o 3, mesmo que seja um facto. É quase como se fossemos uns cavalos com palas nos olhos e isso também é uma forma de fanatismo. E pensar que isto ainda existe em pleno séc. XXI não pode deixar de assustar.

"Hoje, quase meio século depois da publicação da Encíclica (Humani generis, de Pio XII, que considerava o evolucionismo uma hipótese séria), novos conhecimentos dão-nos conta que a teoria da evolução não é apenas uma mera hipótese. De facto, é notável que esta teoria tem sido progressivamente aceite por investigadores, depois de uma série de descobertas em vários campos do conhecimento. A convergência, não procurada ou fabricada, dos resultados desse trabalho que foi conduzido independentemente é, em si mesmo, um argumento significativamente a favor desta teoria."

Papa João Paulo II, 1996

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