terça-feira, 25 de agosto de 2009

Insólitos


No regresso a Portugal e no catch-up com o que aconteceu na semana em que estive fora, deparo-me com um evento que, dados acontecimentos recentes, tem fundamentos curiosos, senão paradoxais: Sócrates: insulto degrada democracia e é arma dos fracos. Curioso porquê? Qualquer cibernauta que se encontre minimamente atento ao que se vai passando na blogosfera terá, certamente, tido conhecimento do Caso Galamba (poderia, jocosamente, atribuir outro nome a este incidente, mas não o farei por óbvias questões de boa educação). Por mais baixa que esteja a ser a contínua troca de galhardetes entre as vozes não-oficiais do regime (SIMplex) e do contra-regime (Jamais) na blogosfera, pouco de novo estarei a dizer ao reiterar as vozes de censura ao comentário pouco educado de João Galamba. No entanto, torna-se insólita a defesa do Engº Pinto de Sousa contra os supostos insultos do Presidente da Região Autónoma da Madeira, quando conta com tais elementos por entre as suas fileiras. Mas este não é o único insólito. Outros destaques:

- As "pazes" que o Governo tenta fazer com os professores. Aparentemente, a um mês das eleições, desfaz-se tudo o que foi feito em 4 anos de legislatura. É o cheirinho a votos, vá lá. E a garantia derradeira (mesmo depois da oficial) de que não teremos de suportar a socióloga do ISCTE caso o PS forme Governo.
- O desespero de Sócrates, com a sua quase certa incapacidade em angariar uma maioria absoluta. Depois de ter antagonizado todo o espectro político com representação parlamentar, começa a vir ao de cima a faceta de um homem (?) que só sabe governar sozinho, e que terá um caminho duro pela frente caso vença as eleições com maioria relativa (que é, sejamos francos, o cenário mais provável).


And now for something completely different, um pequeno comentário ao caso da bandeira sobre o qual ainda não me pronunciei. Encontro-me junto daqueles que não sendo monárquicos (muito longe disso), acharam hilariante a atitude do 31 da Armada. Por muito que o alvo único e directo (não acredito nisto, fique patente) tivesse sido o centenário da república, não restam dúvidas de que muito fizeram os responsáveis pela causa da oposição na guerra pela câmara de Lisboa - a ineficiência, latência e desinteresse que levaram a que a bandeira se mantivesse hasteada até depois da hora de almoço; a falta de segurança e vigilância na baixa lisboeta que permitiram a 4 homens transportar um escadote desde a Avenida de Liberdade até à Praça do Município, e estendê-lo contra a sede da Câmara; a falta de comunicação e coordenação entre a presidência e a vice-presidência; tudo o mais que, tristemente, tornou este episódio numa autêntica humilhação para os órgãos municipais da capital portuguesa.
O acontecimento teve um impacto mediático maior do que se esperava - ainda bem. Prova disso é que, passadas semanas, ainda se escreve sobre o assunto, como atesta o artigo parcialmente transcrito no post anterior. Em relação a esse mesmo artigo, permitam-me discordar de um pequeno (?) ponto: Portugal não tem cultura anti-monárquica, não tem cultura republicana - tem, acima de tudo, uma falta gritante de cultura democrática. Depois de uma ditadura anárquica de 1910 a 1926, ditadura militar de 1926 a 1933, ditadura constitucional de 1933 a 1974 e ditadura provisória de 1974 a 1975, ainda hoje vivemos numa ditadura de costumes. Com uma classe política totalmente distanciada da sociedade civil - sociedade essa que é totalmente desinteressada e alheada da governação do país. Nos Estados Unidos da América, país notável pelo melhor e pelo pior, o acesso ao Capitólio, aos corredores por onde passam Senadores e Congressistas é totalmente livre a qualquer cidadão norte-americano. O Capitólio é um edifício do Estado, do povo americano, e este encontra-se em pleno direito de acesso não apenas à estrutura, mas a quem a frequenta. Em Portugal, continuam corredores fechados, candidatos em listas de distritos pelos quais provavelmente passaram apenas em campanha, mobilidade gritante entre cargos públicos e em grandes grupos empresariais - enfim, uma promiscuidade assustadora entre os três grandes poderes assim como foram listados por Montesquieu, mas tudo isto sem a plebe à mistura, obviamente, quais infra-humanos quais quê, só comem merda (ai que já estou a entrar no contraditório, tinha começado tão bem a censurar o Galamba), porque é que hão de se vir intrometer naquilo, naquela arte em que são mestres os nossos governantes?

1 comentário:

  1. Ai o Galamba! Apesar de não o ter comentado aqui, também acompanhei esse caso pela blogosfera. Não há dúvida que são os nossos deputados no seu melhor!

    Concordo em pleno com a falta de cultura democrática em Portugal. Mas também concordo com o Rodrigo Mouta de Deus, quando diz que há uma cultura anti-monárquica por parte de muitos republicanos (a tentativa constante de ridicularização do chefe da casa real - a imagem de "pateta alegre" - é o seu expoente máximo).

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