quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Watergate à portuguesa

Pela primeira vez desde que há memória na democracia portuguesa, membros da Casa Civil da Presidência (neste caso acessores de Cavaco Silva) especulam, a título oficial e, diga-se a propósito, fundadamente, sobre um controlo ilegítimo, quiçá uma escuta telefónica, da parte de S.Bento, sem que haja qualquer demarcação do presidente.
O caso é democraticamente grave, tanto mais que as eleições estão à porta e as queixas são motivadas por críticas políticas do partido do governo (também sem demarcação pela liderança), as quais fazem uso político de matéria aparentemente da esfera privada dos visados, aliás nem sequer identificados, lançando uma suspeição inaceitável sobre toda a Casa Civil.
Porque não terá este caso consequências concordantes com as suas indisfarçáveis semelhanças com o célebre Watergate? É certo que não há qualquer prova da obtenção ilícita de informação, da clássica espionagem. No entanto, por um raciocínio semelhante ao evocado pelo enriquecimento ilícito, é de supor que as informações confidenciais sobre os encontros e os diálogos dos membros da Casa Civil teve proveniência distinta da da geração espontânea. Pouco importa se a espionagem é de índole técnica ou o resultado de uma "infiltração" política, para efeitos de moral política.
Importa sim questionar: a quem incumbe, num caso destes, o ónus da prova?

2 comentários:

  1. Eu posso andar um pouco a leste (ou no meu caso a norte) mas isto é mesmo a sério? E se é mesmo a sério, como pode o Presidente da República não agir de imediato? Das duas uma: ou é mentira e ele deveria negar cstegoricamente qualquer suspeita sobre eventuais escutas ou se é verdade deveria mandar investigar essas mesmas escutas e demitir de imediato o Primeiro Ministro. E se for tudo uma brincadeira (de mau gosto) como pode o PR ser conivente com esta brincadeira? Eu não quero saber se o Cavaco e o Sócrates não se gramam, mas estamos a falar da relação entre as principais figuras de Estado. Pode-se lançar esta suspeita para o ar e não acontecer absolutamente nada?

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  2. Assim é de facto, estranho que o PR se remeta ao silêncio. A meu ver, caso a queixa seja legítima e baseada em factos verdadeiros (não ponho as minhas mão no fogo por ninguém...), este silêncio poderá dever-se a uma constatação - a de que a espionagem "informal" - infiltração em comitivas ou saída de informação confidencial não é facilmente passível de ser provada e ainda menos de ser punida. Talvez a notícia tenha saído sem o consentimento de Cavaco. Mas, a ser verdadeira, o PR, pelo perfil que os portugueses bem conhecem, não se sentiria de todo compelido a desmenti-la em nome da correcção democrática e na ausência de provas. Até pela exasperação que parece revelar face a Sócrates.
    Não será o comportamento mais correcto. Parece, isso sim, decorrer de uma degeneração progressiva dos instrumentos usados na confrontação entre S.Bento e Belém - um processo iniciado por José Sócrates e a que Cavaco Silva parece, evitável (?) e infelizmente, estar a dar continuidade.

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