sábado, 31 de outubro de 2009

O dia depois de amanhã


Este post era para ser um comentário ao post de baixo do Formiga mas já estava a ficar algo para o longo. Vamos então lá dissecar o “bicho” Marcelo e a aparente vaga de fundo.

Para começar Marcelo será (provavelmente) outro erro de casting se vier a ser líder do PSD. É melhor do que Manuela Ferreira Leite? Provavelmente sim. Vence Sócrates? Provavelmente não. O PSD ainda não percebeu que não voltará a vencer eleições enquanto for mais do mesmo. Enquanto continuar a apresentar as caras de sempre, as ideias de sempre. O PSD (ou os seus “barões”) ainda não percebeu que tem mesmo (mesmo) de mudar. Outra coisa que os “barões” do PSD ainda não perceberam é que enquanto estiverem mais empenhados em derrotar Passos Coelho a todo o custo do que em defrontar Sócrates, só ajudam o Passos Coelho e sim, quero dizer com isto que não me admirava muito se Passos Coelho derrotasse Marcelo Rebelo de Sousa em directas (a probabilidade de vitória do primeiro será tanto maior quanto mais desesperadas andarem as diferentes facções a encontrar alguém só com o único propósito de o derrotar).

Marcelo, Rangel, Ferreira Leite, Aguiar-Branco e mais uns quantos, qualquer um serve, qualquer um tem que avançar, para Passos Coelho não ganhar. É preferível que Sócrates ganhe mais uma eleição do que ter lá o Passos Coelho (para eles, para mim não). Sinceramente não percebo este medo todo pelo Passos Coelho. Ainda há uns 2 anos ninguém sabia quem ele era e, verdade seja dita, ele nem sequer teve ainda a oportunidade de mostrar o que vale, enquanto deputado, ministro ou presidente do partido (ao contrário de outros que a tiveram, só fizeram porcaria e já provaram que não são a solução para o PSD). Esta azáfama toda dos “barões” faz-me lembrar a que tiveram contra o Santana Lopes. Mas essa até a consigo perceber um pouco. O “menino-guerreiro” já lá tinha passado, eles não gostaram nem um pouco e havia que impedir que retornasse a todo o custo. Deu mau resultado, mas até consigo perceber. Agora com o Passos Coelho não consigo mesmo. Não o podem propriamente acusar de ter feito um mau trabalho. A única explicação que encontro é de que Passos Coelho é mesmo uma mudança e é isso que os assusta. Uma mudança irá implicar o fim do seu “reinado” pelo partido. É feio de se dizer mas é a verdade nua e crua. Estão mais preocupados com os seus pequenos e grandes tachos do que em derrotar os socialistas (aos quais vão entregando vitórias de mão beijada - incluo nestas vitórias as autárquicas).

Há poucos dias o Henrique Burnay, para o 31 da Armada, recordava a Marcelo Rebelo de Sousa uma grande lição de vida: “…além de não se voltar a um lugar onde se foi feliz, sobretudo não se costuma regressar a um lugar onde se foi infeliz.” Marcelo já se terá esquecido de como foi ou então pensará que desta vez será diferente, mas é mais provável que seja diferente para pior do que para melhor. Além do mais Marcelo devia decidir-se pelo que quer. Ou quer ser Presidente da República ou do PSD e concorrer para 1º Ministro. Ou quer mesmo e avança ou então retira-se e não anda aqui ora a dizer que sim, ora a dizer que não, a ver no que é que isto dá. Agora esta política de que "o que vier à rede é peixe" pode dar mau resultado. Mas isto é apenas a minha opinião e, no fundo, posso estar completamente enganado.

p.s. (De notar que reconhecer que o partido daqui a 5 anos estará nas mãos do Passos Coelho é reconhecer, desde já, que não há grande esperança que o Marcelo derrote o Sócrates. Para mim isso é motivo mais do que suficiente para se partir para outra.)

p.s.2 De notar que muitos dos que mais defenderam que Manuela devia cumprir o mandato até ao fim (completamente de acordo), são os que mais andam a mandar nomes de hipotéticos candidatos para o ar. Seria interessante que os interessados avançassem por si, mas mais uma vez querem ir buscar um nome da "velha guarda" para fazer o "trabalho sujo".

p.s.3 Depois de voltar a ouvir Marcelo fico com a sensação que ele quer mesmo voltar a ser presidente do PSD. Só não quer é ter que ir a votos contra alguém. A unanimidade do partido só se conseguirá pelas bases, em directas. E só será verdadeira se houver mais do que um candidato por onde se escolher. Aparentemente Marcelo não quer isso.

3 comentários:

  1. Vou ser breve; a diferença horária não me dá garante grande liberdade.

    1. "Para começar Marcelo será (provavelmente) outro erro de casting se vier a ser líder do PSD." Discordo. Ferreira Leite foi-o, é facto, e não precisou de muito para o mostrar, mas parece-me que Marcelo, a ser, será - porque o é - um tipo muito mais hábil e com outra sensibilidade política. Ferreira Leite não é política, não o sabe ser e a sua sensibilidade tem mostrado moldar-se em partidas dobradas.

    2. "Provavelmente não. O PSD ainda não percebeu que não voltará a vencer eleições enquanto for mais do mesmo. Enquanto continuar a apresentar as caras de sempre, as ideias de sempre. O PSD (ou os seus “barões”) ainda não percebeu que tem mesmo (mesmo) de mudar."
    Acho que este raciocínio tem algo de capcioso. Em política não são raras as vezes em que uma vitória é conseguida recorrendo a mais do mesmo. O eleitor prefere a estabilidade ainda que alguns, individualmente, não pensem da mesma forma. Não é necessariamente mau, historicamente terá, até, mostrado que uma minoria subversiva altera, muitas vezes, para melhor o curso da história.
    Quanto às caras, se essas são as melhores que as continue a apresentar. Não digo que o tempo para algumas delas saírem não tenha sido já excedido (não faltam exemplos por aí que o confirmem) mas mudar por mudar, respondendo a uma necessidade artificial de apresentar novas caras só poderá apresentar-se como uma solução errada. A história dentro das instituições quere-se conservadora. E isso estará na sua génese.

    3. "Passos Coelho derrotasse Marcelo Rebelo de Sousa em directas (...)." Não me parece provável e espero que não o seja.

    4. "Há poucos dias o Henrique Burnay, para o 31 da Armada, recordava a Marcelo Rebelo de Sousa uma grande lição de vida: “…além de não se voltar a um lugar onde se foi feliz, sobretudo não se costuma regressar a um lugar onde se foi infeliz.”"
    Com todo o respeito pela opinião do Henrique Burnay, acho que MRS não precisa para nada das lições dele.

    4. "Marcelo já se terá esquecido de como foi ou então pensará que desta vez será diferente, mas é mais provável que seja diferente para pior do que para melhor." Não vejo porque. Nem se auspicia tal coisa neste segundo mandato de JS.

    5. "A unanimidade do partido só se conseguirá pelas bases, em directas. E só será verdadeira se houver mais do que um candidato por onde se escolher. Aparentemente Marcelo não quer isso." A unanimidade não se consegue pelas bases; penso que se consegue uma vez que ela atinja as bases.

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  2. Apesar de tudo acho que o Passos Coelho teria provavelmente sido desancado pelo Sócrates e pelas esquerdalhas cá do sítio. Ou isso ou tinha-se deixado de "neo-liberalismos capitalistas" e outros chavões assim, que é como quem diz, não podia dizer alto metade das ideias programáticas que o distinguem (ou que pelo menos eu espero que venham a distinguir).

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  3. Há coisa de 2 anos o Ricardo Costa escreveu num artigo para o Diário Económico que muitas vezes a política explica-se com as regras mais simples da vida. Nesse artigo ele fazia duas previsões e uma delas só não se cumpriu até ao fim por causa dos célebres "corninhos". Isto serve só para dizer que sim, neste momento o Professor precisa das lições do Henrique Burnay (ou de quem lhe for mais próximo) porque está a esquecer-se das mais simples. É como diz uma música dos xutos: "o que foi não volta a ser".

    Pode não fazer sentido mas ele não foi feliz, já teve a sua oportunidade e não correu da melhor maneira e não acredito mesmo que desta vez vá correr melhor. Acho que só vai sair pior do que quando (e se) entrar nisto.

    Quanto à mudança que o PSD precisa neste momento, acredito que tenha mesmo que ser total, de ideis e de caras (novas caras e caras novas já agora). De outra maneira acho que não vencem o Sócrates. E o Passos Coelho apareceu há uns 2 anos completamente descomprometido. De um lado os "barões", encabeçados pela Ferreira Leite e de outro os santanistas e menezistas, encabeçados pelo Snatana. Passos Coelho era o terceiro e conquistou o voto de muitos que estavam cansados com estas divisões. Não estava ligado ao Cavaco, ao Marcelo, ao Barroso, ao Santana, ao Marques Mendes, ao Menezes ou a mais outros tantos. Mas como não veio do meio dos "barões", tornou-se no novo inimigo público nº1. Por mim estou disposto a dar-lhe uma oportunidade, só para ver como corre. Os outros já lá estiveram.

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