Diário Económico, 26-04-09
Corram riscos, corram! Quem o diz é o Sr. Pinto de Sousa, sim, porque é o vosso capital que está em risco, não o dele, que esse está bem guardadinho algures, quiçá parte dele em Alcochete, mas enfim, este não é o espaço para conjecturar sobre isso e esta frase já vai longa. Os 34% de IRC, 20% de IVA e restantes contribuições (para a Segurança Social), esses, o Estado há de os comer sempre, com risco ou sem risco. Falar é fácil. Portugal continua, em pleno século XXI, a ser um dos países com maiores índices de regulação do seu mercado de trabalho - o mercado que se encontra por detrás de todos os outros, de bens e serviços. Quando as bolhas rebentam, os bancos estoiram e os preços começam a baixar, quem mais se lixa é quem não pode despedir 100 trabalhadores, e acaba insolvente, tendo de mandar todos os 1000 para o fundo de desemprego.
Os mais optimistas (como o Trichet o era há 1 mês atrás), esperam que a recuperação do Mercado Comum comece já daqui a um ano. Os pessimistas (ou realistas) oferecem-nos a perspectiva de uma estadia de cerca de uma década no resort conhecido como armadilha de deflação, estabelecimento turístico esse que teve o prazer de acolher o Japão de forma mais ou menos ininterrupta nas últimas duas décadas. Qual é que é o problema dessa armadilha, conhecida como espiral por alguns, de deflação? "Os preços estão a descer e o nosso poder de compra real a subir, ó idiota", dizem alguns. Pois é, mas os agentes económicos, em média, não são burros. E se os preços estão a descer agora, é porque amanhã estarão ainda mais baixos. Visto isso, porque não comprar o T2 e o Toyota amanhã? Pimba, ninguém compra nada, ninguém investe nada, preços continuam a cair. Sejam benvindos a uma armadilha em espiral.
"Mas essas tretas são exemplos de livros e nunca acontecem em Portugal, ó palerma" Pois não. O caso português é um nadita mais complicado. Para além das associadas armadilhas de liquidez que para agora não interessam nada, a rigidez do mercado laboral (que, como foi dito, é uma das mais elevadas da Europa), não ajuda mesmo nada. Existe uma pressão descendente sobre os preços, logo existe uma pressão descendente sobre aquilo que as empresas recebem por vender os seus produtos. Mas as empresas não podem baixar custos (salários - o custo de capital já começa a ficar suficientemente baixo com a descida das taxas de juro) para compensar uma redução das receitas. O que fazer? Rebenta-se com a empresa, aquilo já não dá nada, thank you bye bye, e o JN já pode pôr na capa de amanhã que mais 2000 trabalhadores foram atirados para o desemprego. A recessão e a deflação continuam, alegremente, a galopar sobre a economia.
As políticas supply-side perderam credibilidade e apoio no final dos anos 80, com o fim dos mandatos de Reagan e Thatcher (os "auratos do neoliberalismo", como lhes chamam os esquerdalhos). Alguns economistas e ideólogos defendem o seu regresso parcial, como forma de combater a crise e apoiar os empregadores que mal se aguentam sobre a corda bamba. Por isso, Sr. Pinto de Sousa, em vez de andar a dar empurrõezinhos à procura agregada com TGV's e megalomanias afins, em vez de continuar a aumentar a dívida externa com abortos macroeconómicos, já alguma vez pensou que também pode ajudar a economia pelo lado da receita do Estado? Talvez ele considere demasiado arriscado....sim, porque risco, isso é para os empresários!
Os mais optimistas (como o Trichet o era há 1 mês atrás), esperam que a recuperação do Mercado Comum comece já daqui a um ano. Os pessimistas (ou realistas) oferecem-nos a perspectiva de uma estadia de cerca de uma década no resort conhecido como armadilha de deflação, estabelecimento turístico esse que teve o prazer de acolher o Japão de forma mais ou menos ininterrupta nas últimas duas décadas. Qual é que é o problema dessa armadilha, conhecida como espiral por alguns, de deflação? "Os preços estão a descer e o nosso poder de compra real a subir, ó idiota", dizem alguns. Pois é, mas os agentes económicos, em média, não são burros. E se os preços estão a descer agora, é porque amanhã estarão ainda mais baixos. Visto isso, porque não comprar o T2 e o Toyota amanhã? Pimba, ninguém compra nada, ninguém investe nada, preços continuam a cair. Sejam benvindos a uma armadilha em espiral.
"Mas essas tretas são exemplos de livros e nunca acontecem em Portugal, ó palerma" Pois não. O caso português é um nadita mais complicado. Para além das associadas armadilhas de liquidez que para agora não interessam nada, a rigidez do mercado laboral (que, como foi dito, é uma das mais elevadas da Europa), não ajuda mesmo nada. Existe uma pressão descendente sobre os preços, logo existe uma pressão descendente sobre aquilo que as empresas recebem por vender os seus produtos. Mas as empresas não podem baixar custos (salários - o custo de capital já começa a ficar suficientemente baixo com a descida das taxas de juro) para compensar uma redução das receitas. O que fazer? Rebenta-se com a empresa, aquilo já não dá nada, thank you bye bye, e o JN já pode pôr na capa de amanhã que mais 2000 trabalhadores foram atirados para o desemprego. A recessão e a deflação continuam, alegremente, a galopar sobre a economia.
As políticas supply-side perderam credibilidade e apoio no final dos anos 80, com o fim dos mandatos de Reagan e Thatcher (os "auratos do neoliberalismo", como lhes chamam os esquerdalhos). Alguns economistas e ideólogos defendem o seu regresso parcial, como forma de combater a crise e apoiar os empregadores que mal se aguentam sobre a corda bamba. Por isso, Sr. Pinto de Sousa, em vez de andar a dar empurrõezinhos à procura agregada com TGV's e megalomanias afins, em vez de continuar a aumentar a dívida externa com abortos macroeconómicos, já alguma vez pensou que também pode ajudar a economia pelo lado da receita do Estado? Talvez ele considere demasiado arriscado....sim, porque risco, isso é para os empresários!
ahah, adorei o teu texto e concordo. Mas sabes, é sempre mais fácil cortar fitas e gastar os nossos últimos tostões em mostrar obra feita, que investir em bases para melhorar a economia. E já tivemos vários exemplos disso. Quando entramos na UE, os subsídios foram maioritariamente para as obras públicas em vez de terem sido investidos na construção de uma economia sólida e na educação. Ora o dinheiro não cresce das árvores, uma vez gasto, gasto está – deviam ter pensado nisso antes. Três vivas para o Sr. Pinto Sousa do Alijó e os seus TGV'S e luvas do Freeport.
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