quarta-feira, 29 de abril de 2009

Salários Milionários



Há algum tempo que se tem voltado a falar dos salários dos gestores de empresas e em épocas de forte crise como esta, torna-se mais evidente do que nunca o enorme fosso que separa os salários de alguns grandes gestores com os dos “trabalhadores comuns”. Ontem e tocando neste tema, um amigo perguntou-me se eu era a favor de se estabelecerem limites para os salários destes “felizardos” do capitalismo. Pois eu digo que depende.

É admissível que os gestores ganhem salários “super-milionários” em empresas públicas? Não, não é! Mas deve ser o limite máximo desses salários, inferior ao do Presidente da República, que, de todos os funcionários do Estado, é o mais importante? Sei que algumas pessoas poderão não gostar da minha resposta, mas a verdade é que não me faz confusão nenhuma que alguém que seja (mesmo) bastante competente e que até tenha transitado de uma empresa privada onde ganhava um montante superior ao do Presidente da República, continue a ganhar mais do que este. A verdade é que a competência paga-se e muitas empresas públicas (já para não falar do próprio Estado) bem precisavam de alguém que metesse ordem nas suas contas.

E no privado? Bem, vivemos num livre mercado concorrencial e as empresas pagarão sempre muito a quem lhes fizer aumentar os lucros. Mas infelizmente num país como o nosso, a concorrência em alguns sectores da nossa economia (como a energia, por exemplo) não é propriamente perfeita. Algumas empresas actuam em nichos onde não existe um mercado muito concorrencial. Existem empresas que, mesmo apresentando prejuízos, continuam a pagar salários milionários aos seus gestores. Existem empresas onde um gestor pode trabalhar apenas por um, dois, três anos e sair com uma reforma choruda vitalícia. Existem empresas (como o BCP assim de repente) em que um presidente pode fazer um trabalho “não muito bom”, saindo de lá com uma bruta indemnização. E isto é normal? É aceitável? Bem, não é! O mérito e a competência devem ser recompensados, não o contrário.

Ainda há poucos dias Ângela Merkel anunciou que vai endurecer a legislação que regula a actuação dos gestores das empresas, de modo a punir aqueles que apresentem prejuízos. Isto, para mim, já faz sentido. É que, mais do que hoje disse o Sr. Presidente da República, mais do que “as grandes desproporções entre rendimentos dos gestores e dos seus trabalhadores que põem em causa a paz e a coesão social”, são os casos de manifesta incompetência e abuso (nas empresas e no Estado) que revoltam as pessoas e contribuem, aí sim, para pôr "em causa a paz e a coesão social”.

5 comentários:

  1. Não sei até que ponto concordarei com alguns pontos que defendes. Começando do fim: o risco nas empresas é assumido directamente pelos accionistas, desde que o mercado seja livre e se o estado não meter as manápulas não há qualquer razão para ser necessária legislação punitiva para com gestores de empresas com prejuízos.
    No caso do BCP em concreto já tive mais certezas, mas creio que Jardim Gonçalves foi um dos fundadores do banco e daí a maioria das vantagens que teve. Se o sistema de justiça português funcionar e ele tiver realmente cometido algum crime, será punido pelo mesmo e o dinheiro voltará aos legítimos donos - os accionistas.
    Quanto ás empresas públicas... É mais uma vez dúbio. Eu não me importava que o salário mais alto em Portugal fosse o do Presidente da República seguido do do Primeiro-Ministro se isso significasse que estes dois senhores eram as duas pessoas em melhores condições para exercerem o cargo. O que sucede é que o sistema de eleições é fiável e pouco flexível, pelo que é impossível assegurar isto. Além disso, devido ao modo como as eleições em Portugal estão construídas, são os partidos que elegem as pessoas e seria impossível à pessoa ideal para o cargo (admitindo que essa pessoa exista) fazer-se eleger sem o apoio de um dos partidos, sendo que o necessário para garantir esse apoio poderia muitas vezes ser contrário ao necessário para exercer o cargo de forma a merecer o salário auferido.
    Nas empresas públicas... Depende. Eu não me importava de pagar um salário milionário a um gestor geral da função pública que se comprometesse a torná-la eficiente e a reduzir custos. Mais ou menos o que sucedeu com aquele senhor da direcção geral dos impostos cujo o nome não me vem à cabeça. Agora, pagar aos boys das listas do partido pelos lugares que ocupam sem quaisquer qualificações ou conhecimentos, isso não.

    Por essas e por outras é que o conceito "empresas públicas" deveria ser muito mais estrito.

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  2. Começando também pelo fim do teu comentário. Concordo contigo. Quando escrevi que não me importava que alguém que tivesse transitado de uma empresa privada para o Estado e que até já ganhasse mais do que o Presidente da Reppública, continuasse a ganhar mais do que ele, estava também a pensar nesse senhor. Chama-se Paulo Macedo. Fez um bom trabalho e aparentemente acabou por ser corrido porque ganhava mais do que o PR (não me lembro se foi esse mesmo o motivo mas falou-se no assunto). Cá em Portugal, quando se fala dos salários de pessoas ligadas ao Estado, acaba-se por falar sempre no salário do PR como sendo um tecto. Ora não me faz confusão que o tecto seja ultrapassado, quando a pessoa o merece. Mas essas pessoas serão excepções e apesar de não me fazer confusão que possam ganhar mais de 5.000€/mês (acho que o salário do PR anda à volta disto), também não é preciso chegar-se a valores de 50.000€ ou mais como na grande banca.

    Quanto ao caso BCP, confesso que estava a pensar mais no Paulo Teixeira Pinto que saiu com uma indemnização de 10.000.000€! Ele merecia? Não sei quem é que, dentro do banco, decide o valor da indemnização, mas eu se fosse accionista do mesmo não tinha gostado do que se andava a passar com o banco naquela altura, sendo o Dr. Paulo Teixeira Pinto um dos responsáveis. E, como sabes, sou totalmente a favor de um mercado livre mas confesso que me faz confusão haver quem ganhe milhões em empresas com prejuízos. Como disse ontem o José Gomes Ferreira na SIC: "Não é possível nós num país, com a situação em que estamos, assistir a administradores de empresas, que vivem em mercados que são imperfeitos, não são concorrenciais, nomeadamente a energia, e ganharem 1.000.000€ em empresas que estão endividadas em 13.000.000.000€!" Isto existe e isto não é o livre mercado concorrencial a funcionar. Nesse mercado premia-se o mérito e a competência, como disse no meu post. Isto é uma completa incompetência e é um abuso.

    Por fim chegas a referir ainda, no teu comentário, o facto de serem os partidos a apoiar as pessoas. Temos, em Portugal e como referiste, um sistema de eleições pouco flexível. Só para a Presidência da República é que uma pessoa concorre a título individual e mesmo assim há (quase) sempre uma máquina partidária por detrás. O Manuel Alegre deve ter sido a excepção nas últimas eleições. Ora isto é algo que está mesmo mal, acho que a solução do futuro está nos chamados "movimentos de cidadãos", que, por lei, nem podem concorrer à Assembleia da República. Mas poderá ser um tema para um outro post.

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  3. Isso é um comment ou um post número 2?lol

    Como é que sabes que o Teixeira Pinto é um dos responsáveis?

    Quanto aos salários, sim devia haver standards e um limite máximo. Quanto ao salário do PM, sejamos honestos, não é nada por aí além. E qualquer pessoa competente o bastante ganha mais que isso.

    Concordo com a Angela. Beneficiar os competentes e tirar regalias e até mesmo punir os que pela falta de ética, moral e profissionalismo - contribuem para o endividamento e posterior falência das empresas.

    Há que haver responsabilização.

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  4. Mais parece um 2º post =p

    O Teixeira Pinto é um dos responsáveis, pelo menos, da má imagem que o BCP criou nesse momento, na medida em que era um dos actores da "novela". Duvido muito que os accionistas tenham gostado desse período, na medida em que eram eles que estavam a perder dinheiro com a desvalorização das acções no mercado.

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  5. Não sei até que ponto se pode discutir a culpa do Paulo Teixeira Pinto, porque há coisas que provavelmente viriam de trás e que nem sequer passaram pelas mãos dele. Nos restantes casos que referes, se reparares, a culpa é mais do mercado ser imperfeito do que das práticas em causa. Se calhar em vez de se discutir os salários dos gestores devia-se discutir modos de transformar esses mercados em mercados concorrenciais.

    Sou completamente contra tectos salariais ou qualquer outro tipo de penalizações, desde que a empresa seja privada. Os gestores respondem aos accionistas, que são os donos das empresas e quem corre o risco com o dinheiro investido, não à opinião pública mesquinha e pouco esclarecida. Se não fosse assim estaríamos a alterar a politica de incentivos.

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