quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Nem mais


"O maior disparate é deduzir da crise a necessidade de mudar o sistema. Equivale a recomendar às vítimas de um desastre automóvel que andem de burro." João César das Neves.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sem Palavras

Os anseios de Carolina Patrocínio, mandatária para a juventude pelo Partido Socialista.

Insólitos


No regresso a Portugal e no catch-up com o que aconteceu na semana em que estive fora, deparo-me com um evento que, dados acontecimentos recentes, tem fundamentos curiosos, senão paradoxais: Sócrates: insulto degrada democracia e é arma dos fracos. Curioso porquê? Qualquer cibernauta que se encontre minimamente atento ao que se vai passando na blogosfera terá, certamente, tido conhecimento do Caso Galamba (poderia, jocosamente, atribuir outro nome a este incidente, mas não o farei por óbvias questões de boa educação). Por mais baixa que esteja a ser a contínua troca de galhardetes entre as vozes não-oficiais do regime (SIMplex) e do contra-regime (Jamais) na blogosfera, pouco de novo estarei a dizer ao reiterar as vozes de censura ao comentário pouco educado de João Galamba. No entanto, torna-se insólita a defesa do Engº Pinto de Sousa contra os supostos insultos do Presidente da Região Autónoma da Madeira, quando conta com tais elementos por entre as suas fileiras. Mas este não é o único insólito. Outros destaques:

- As "pazes" que o Governo tenta fazer com os professores. Aparentemente, a um mês das eleições, desfaz-se tudo o que foi feito em 4 anos de legislatura. É o cheirinho a votos, vá lá. E a garantia derradeira (mesmo depois da oficial) de que não teremos de suportar a socióloga do ISCTE caso o PS forme Governo.
- O desespero de Sócrates, com a sua quase certa incapacidade em angariar uma maioria absoluta. Depois de ter antagonizado todo o espectro político com representação parlamentar, começa a vir ao de cima a faceta de um homem (?) que só sabe governar sozinho, e que terá um caminho duro pela frente caso vença as eleições com maioria relativa (que é, sejamos francos, o cenário mais provável).


And now for something completely different, um pequeno comentário ao caso da bandeira sobre o qual ainda não me pronunciei. Encontro-me junto daqueles que não sendo monárquicos (muito longe disso), acharam hilariante a atitude do 31 da Armada. Por muito que o alvo único e directo (não acredito nisto, fique patente) tivesse sido o centenário da república, não restam dúvidas de que muito fizeram os responsáveis pela causa da oposição na guerra pela câmara de Lisboa - a ineficiência, latência e desinteresse que levaram a que a bandeira se mantivesse hasteada até depois da hora de almoço; a falta de segurança e vigilância na baixa lisboeta que permitiram a 4 homens transportar um escadote desde a Avenida de Liberdade até à Praça do Município, e estendê-lo contra a sede da Câmara; a falta de comunicação e coordenação entre a presidência e a vice-presidência; tudo o mais que, tristemente, tornou este episódio numa autêntica humilhação para os órgãos municipais da capital portuguesa.
O acontecimento teve um impacto mediático maior do que se esperava - ainda bem. Prova disso é que, passadas semanas, ainda se escreve sobre o assunto, como atesta o artigo parcialmente transcrito no post anterior. Em relação a esse mesmo artigo, permitam-me discordar de um pequeno (?) ponto: Portugal não tem cultura anti-monárquica, não tem cultura republicana - tem, acima de tudo, uma falta gritante de cultura democrática. Depois de uma ditadura anárquica de 1910 a 1926, ditadura militar de 1926 a 1933, ditadura constitucional de 1933 a 1974 e ditadura provisória de 1974 a 1975, ainda hoje vivemos numa ditadura de costumes. Com uma classe política totalmente distanciada da sociedade civil - sociedade essa que é totalmente desinteressada e alheada da governação do país. Nos Estados Unidos da América, país notável pelo melhor e pelo pior, o acesso ao Capitólio, aos corredores por onde passam Senadores e Congressistas é totalmente livre a qualquer cidadão norte-americano. O Capitólio é um edifício do Estado, do povo americano, e este encontra-se em pleno direito de acesso não apenas à estrutura, mas a quem a frequenta. Em Portugal, continuam corredores fechados, candidatos em listas de distritos pelos quais provavelmente passaram apenas em campanha, mobilidade gritante entre cargos públicos e em grandes grupos empresariais - enfim, uma promiscuidade assustadora entre os três grandes poderes assim como foram listados por Montesquieu, mas tudo isto sem a plebe à mistura, obviamente, quais infra-humanos quais quê, só comem merda (ai que já estou a entrar no contraditório, tinha começado tão bem a censurar o Galamba), porque é que hão de se vir intrometer naquilo, naquela arte em que são mestres os nossos governantes?

sábado, 22 de agosto de 2009

Ainda o rescaldo das recentes trocas de bandeiras


"Em Portugal não há republicanismo. Nem sistema republicano. Nem doutrina republicana. O que existe é uma longa tradição anti-monárquica. A vantagem de um sistema republicano, dizem eles, é evitar as desvantagens de um sistema monárquico.
E por isso mesmo não se consegue discutir a questão do regime. Os argumentos não giram em torno da bondade das propostas. Os argumentos giram em torno dos palácios dos marqueses das herdades dos duques e das fortunas dos condes. Discutimos a vida dos outros, os seus privilégios e a sua vida. A sua qualidade de vida.
Cento e sessenta anos depois da publicação do manifesto comunista discutimos a questão monárquica como se fosse o derradeiro episódio da eterna luta de classes. Discutimos sempre a aristocracia. Luta de classes. À antiga marxista. O que não deixa de ser irónico.
Cem anos depois, os únicos que têm palácios, herdades e fortunas são os Comendadores da República. E aqueles que mais brincam com os anéis de brasão herdam orgulhosamente medalhinhas republicanas. Mais recentemente até se instituiu o hábito de herdar círculos eleitorais."

Rodrigo Moita de Deus para o i. Artigo completo aqui.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Barrosices: parte II

Mais que diferenças ideológicas, de sensibilidade, cultura ou pensamento, as hesitações em torno da reeleição de Durão Barroso para um segundo mandato na presidência da CE revelam uma gritante falta de cultura democrática da parte de algumas famílias políticas do PE.
Depois de revelado o apoio do Conselho à reeleição, a vitória clara do PPE nas eleições de Junho não pode senão ser interpretada como um voto de confiança na liderança da CE - ou não tenha sido o partido do Presidente (e o que o apoia) o mais votado.
Torna-se assim impossível compreender que, na impossibilidade (política, não matemática) da constituição de uma maioria parlamentar que excluísse o PPE, se possam colocar objecções à formação do novo executivo. É dever dos partidos respeitar o resultado eleitoral, viabilizando a eleição do candidato do partido mais votado (o único conhecido à partida, devido às idiossincrasias do sistema europeu). Terá certamente o novo executivo de se viabilizar conquistando apoios a pulso, negociando caso a caso cada política.
Porém, o voto de confiança inicial é incontornável de acordo com a boa prática, não devendo ser submetido a cedências programáticas - que seriam próprias de uma coligação (ou de um acordo de incidência parlamentar permanente). Se do partido liberal já o esperaríamos, ainda mais (se aqueles forem colocados no grupo dos radicais/extremistas/oposicionistas se o aguardaria do PSE, partido que se exige responsável.
Uma última nota de elogio à posição veiculada durante a campanha por Vital Moreira, então criticada. Por todos estes motivos ela se justifica; espera-se assim, de acordo com o bom senso democrático, a reeleição do Presidente já no próximo dia 15 de Setembro, antes do desgastante referendo irlandês.

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No melhor e no pior, Vital Moreira incorreu, na sequência da sua entrevista ao jornal "Público", em declarações no limiar do ridículo, ao sugerir publicamente que, a existir, a predisposição para promover coligações deve ser sábia e precavidamente ocultada. Numa altura em que tanto se fala de verdade em política, dá que pensar.

Watergate à portuguesa

Pela primeira vez desde que há memória na democracia portuguesa, membros da Casa Civil da Presidência (neste caso acessores de Cavaco Silva) especulam, a título oficial e, diga-se a propósito, fundadamente, sobre um controlo ilegítimo, quiçá uma escuta telefónica, da parte de S.Bento, sem que haja qualquer demarcação do presidente.
O caso é democraticamente grave, tanto mais que as eleições estão à porta e as queixas são motivadas por críticas políticas do partido do governo (também sem demarcação pela liderança), as quais fazem uso político de matéria aparentemente da esfera privada dos visados, aliás nem sequer identificados, lançando uma suspeição inaceitável sobre toda a Casa Civil.
Porque não terá este caso consequências concordantes com as suas indisfarçáveis semelhanças com o célebre Watergate? É certo que não há qualquer prova da obtenção ilícita de informação, da clássica espionagem. No entanto, por um raciocínio semelhante ao evocado pelo enriquecimento ilícito, é de supor que as informações confidenciais sobre os encontros e os diálogos dos membros da Casa Civil teve proveniência distinta da da geração espontânea. Pouco importa se a espionagem é de índole técnica ou o resultado de uma "infiltração" política, para efeitos de moral política.
Importa sim questionar: a quem incumbe, num caso destes, o ónus da prova?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

30,1%

Preparem-se para que este número abra os telejornais logo à noite. Saído de fresco dos dados de emprego do INE - variação homóloga para Julho dos inscritos em centros de emprego. Só me ocorre uma coisa:

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Por umas horas a bandeira voltou a ser azul e branca!



Hoje os Paços do Concelho da capital acordaram com a bandeira monárquica hasteada. Esta pequena provocação à nossa "querida" república (das bananas?) foi levada a cabo pelo 31 da Armada. Quem quiser pode visionar essa arriscada e infame operação aqui. Só é pena a bandeira já ter sido retirada...hoje e há 99 anos.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

"Renovação de velharias"


Nas últimas eleições para a presidência do PSD, Manuela Ferreira Leite, Pedro Passos Coelho e Pedro Santana Lopes obtiveram, sensivelmente, um terço dos votos cada. Defendendo uma verdadeira mudança para Portugal e, como tal, para este partido, não escondi que torcia por Pedro Passos Coelho. Gostava que o Futuro do país não estivesse numa cara com quase 70 anos e que a escolha de Setembro não fosse entre quem lá está e quem já lá esteve - é certo que Manuela Ferreira Leite nunca foi nº 1. (De notar que, exceptuando os meses de governo Santana, nos últimos 18 anos Manuela Ferreira Leite e José Sócrates estiveram presentes nos diferentes governos nacionais, facto que não se irá alterar com esta eleição.)

Ao fim de mais de um ano, Manuela Ferreira Leite não é ainda o rosto da mudança. O PSD não descola nas sondagens e apesar de terem ficado contentíssimos com a vitória nas Europeias, esqueceram-se, ou quiseram esquecer, que esta se deveu ao péssimo resultado do PS e não ao estrondoso resultado do PSD. O PSD até pode vir a ganhar em Setembro mas, até agora, nada prevê que mesmo que o consiga, seja por uma grande margem. Tal facto ganha maior relevância tendo em conta o desgaste de quatro anos e meio deste governo e as peripécias de Sócrates e companhia limitada.

Por amor de Deus! Alguém diga aos "barões" do PSD que o governo do país tem de ser merecido e conquistado, não podem ficar simplesmente à espera que o PS caia com o desgaste! É que assim arriscam-se a que não caia tão cedo e Portugal merecia uma verdadeira alternativa! Já o disse no passado e volto a dizer, o PSD, como maior partido da oposição, tinha obrigação de dar esperança aos portugueses num futuro melhor e diferente. Assim, cresce o afastamento, o desinteresse, a abstenção e o voto na extrema-esquerda.

Ontem, por fim, confirmou-se que Pedro Passos Coelho não estava incluído nas listas para a Assembleia Nacional. Dois terços dos votos dos militantes do PSD estão em risco de serem silenciados. A eleição para a Câmara de Lisboa é dificílima e as hipóteses não abonam muito a favor de Santana Lopes. Se perder, Santana fica “arrumado” a um canto, sem qualquer cargo político relevante. Quanto a Passos Coelho e aos seus apoiantes mais próximos (Miguel Relvas é o maior exemplo), também é notório que os querem “arrumar” a um canto, longe da vida política nacional.

É verdade que não sou o maior entusiasta de Santana mas a maneira com que a Manuela Ferreira Leite “calou” cerca de dois terços dos votos dos militantes do PSD, faz-me lembrar o Paulo Portas e a atitude exactamente oposta que este teve, ao convidar o Ribeiro e Castro (que não representa tantos militantes quanto Passo Coelho) para a lista de deputados do CDS. É que muitos dos laranjinhas tentam justificar o afastamento de Passos Coelho com a necessidade de Manuela Ferreira Leite ter um grupo parlamentar coeso. OK. Compreendo. Mas o engraçado é que Paulo Portas, que tem um grupo parlamentar muito mais pequeno, não se preocupou em convidar aquele que é o seu maior opositor interno.

Por fim a Manuela conseguiu uma lista à sua imagem. Uma (falsa) unanimidade digna do nosso "querido" Pinto de Sousa. Da prometida renovação, vieram muitos nomes do passado (Pacheco Pereira?!?). Dos valores do Instituo Sá Carneiro, também tudo metido a um canto. E é melhor nem entrar nos nomes mais polémicos. "Uma renovação de velharias" disse alguém. "Um cavaquismo sem Cavaco". Ontem os discursos críticos de Passos Coelho e Morais Sarmento no Conselho Nacional do PSD foram bastante aplaudidos. Se Manuela Ferreira Leite ganhar as legislativas, estará de parabéns com esta sua táctica, mas se perder, vai ter um partido inteiro contra si (tirando a bancada parlamentar).

Quanto a mim fico à espera da tal renovação anunciada. Fico à espera de uma verdadeira mudança. Mas, por agora, terá que ficar em stand-by.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

"A Política sem Ética é uma Vergonha"


"Acho que um político – autarca, deputado ou governante – acusado, pronunciado ou condenado por crimes especialmente graves – como corrupção, peculato ou fraude fiscal, por exemplo – está fortemente diminuído na sua autoridade, na sua credibilidade e nas condições para o exercício de um cargo político, comprometendo, assim, o prestígio da política e a imagem das instituições." Nestes casos, a lei devia "consagrar frontalmente uma inelegibilidade, ou seja, devia impedir que políticos nestas situações pudessem candidatar-se a eleições".

Marques Mendes, lembrou que "há mais de três anos que a Assembleia da República tem em seu poder um projecto de lei consagrando a inelegibilidade de candidatos a contas com acusações ou condenações judiciais especialmente graves”. O diploma, de que foi o mentor, foi aprovado na generalidade em Dezembro de 2005 pelo PSD e PS. Baixou depois à comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, devido a dúvidas sobre a constitucionalidade de algumas das suas disposições, mas não voltou a ser abordado, nem votado. “Na hora da verdade, não houve coragem para avançar. O Parlamento fechou as portas e o projecto ficou na gaveta. Considero uma omissão grave, deliberada e escandalosa."

Referindo-se também à recente aprovação da Lei do Financiamento Partidário por todas as formações com assento parlamentar (entretanto vetada por Cavaco), Marques Mendes disse ainda que “falam muito de verdade, transparência e credibilidade", mas "na hora de decidir unem-se para mandar às urtigas estes princípios."

"A verdade é que o poder pelo poder não serve para nada. Há que ter princípios e convicções. Às vezes é preciso correr o risco de perder uma eleição para afirmar uma linha política de seriedade e de credibilidade", afirmou. Como diria Sá Carneiro, “a Política sem Ética é uma vergonha”.

Como não acredito que Marques Mendes se refira às próximas eleições legislativas, revejo-me por completo nestas suas palavras.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O nosso país: vá para dentro lá fora

Muito, muito amiúde é o nosso país retratado como imerso num marasmo sócio-cultural de que jamais poderia sair, a modos de um recanto atrasado da União Europeia, mais dependente que nunca desta integração.
Não creio que haja algo de fundamentalmente errado nesta análise, no entanto esta enferma de um pecado capital - ser assinada por quem menos esperássemos - pelos próprios portugueses, quase orgulhosamente.
Um facto curioso que talvez ajude a explicar este comportamento é a reduzida exposição internacional dos portugueses e a ignorância generalizada a respeito dos "países avançados" e "civilizados" com os quais nos comparamos a todo o momento.
Não espanta, por conseguinte, que a nossa percepção acerca de nós mesmos seja tão violentamente afectada por qualquer viagem ao estrangeiro. Ao chegar aí, todos sentem falta de inúmeros detalhes que - só aí se apercebem - pautam a nossa vida e até a nossa felicidade, essa palavra semi-proibida neste "cantinho à beira-mar plantado".
À margem das críticas que então surgem às bárbaras civilizações, sobretudo norte-europeias, despertando de uma ingenuidade infantil acerca da "vida lá fora", será interessante questionar - que temos a aprender sobre a nossa política?
A "política à portuguesa" parece marcada por uma atracção irresistível pelo proibido, um certo prazer de viver à margem das regras gerais e insensíveis, de tornar hoje possível o que ontem era ainda impensável. Não nos servem as estatísticas, sejam económicas ou de desenvolvimento, pois há sempre uma margem de erro - chamemos-lhe economia paralela, qualidade de vida, clima, experiência (entretanto contabilizada pelas Novas Oportunidades) ou hospitalidade. Somos um país de externalidades, mas que teima em internalizar desigualdades sociais e desequilíbrios financeiros que nos perseguem e nos ameaçam como uma bomba-relógio.
No entanto, ao despertar do nosso sono, concluímos não ser os detentores da verdade absoluta a respeito da corrupção - afinal também na velha Inglaterra como na nova América vive a classe política de ajudas de custo ou estranhos subsídios e até na regrada Suécia se entregam rotineiramente malas de dinheiro em pagamento da adjudicação de obras públicas...
Ao colocar a mão na consciência, cada um se apercebe de que não é estranho a qualquer responsável intermédio, membro da sempre explorada classe média, receber presentes pouco inocentes pelo Natal (a célebre garrafa de vinho), além dos inevitáveis convites para eventos sociais ou desportivos. Aqueles a quem não é dado aceder a estes gestos de cortesia não desdenharão tais oportunidades, se um dia as tiverem.
Há algo de semelhante em receber milhões (não para a conta do partido mas para a própria) a troco de uma qualquer licença ou alvará? Sim e não, mas sobretudo não. Estes comportamentos são, para escândalo geral, a excepção, bem distinta da regra da fuga aos impostos ou daquela "pequena" e imperceptível corrupção.
Os traços caracterizadores da nossa política não se poderão assim encontrar generalizando comportamentos criminosos raramente imputados e condenados ou atentando às miudezas culturais que explicam a pequena corrupção ou o estilo sul-americano dos corruptos.
O que nos torna então diferentes? O nosso percurso, a nossa história, as marcas que ainda restam dele. O enviesamento do espaço político à esquerda (o CDS pode já não estar "rigorosamente ao centro", mas está pequeno e sozinho), o conservadorismo das forças de esquerda em matérias não laborais (leia-se, as políticas estruturalmente socialistas outrora adoptadas), o preenchimento do espaço vazio por um mito sebastianista ou salazarista, que leva os eleitores a desejar uma espécie de "Salazar de Esquerda", o estranho contraste entre o tabu da religião em política e o poder ainda detido pela Igreja, mesmo que merecido e ameaçado, a iliteracia dos portugueses, aqui e ali aligeirada por alguma exposição sócio-cultural que o trabalho no turismo e nos serviços confere à maioria do eleitorado.
Que receitas políticas inéditas será preciso inventar? Alguma que preencha o espaço vazio no espectro político, que clarifique se há mesmo espaço para dois partidos sociais-democratas e previna derivas extremo-direitistas. Outra que introduza de uma vez por todas no debate político a discussão das causas e dos efeitos das políticas, em lugar da imputação de responsabilidades ao anterior e ao actual governo (que, a crer na classe política, controlam tudo o que acontece de mau no país). Outra ainda que ensine aos portugueses o que é a política, com recurso a todos os media popularesm começando pelas telenovelas (reais e ficcionadas) do horário nobre.
Por fim uma ainda que faça com que os portugueses "vão para dentro lá fora". Com ou sem literacia, este é mesmo a mais necessária a que aprendamos algo sobre a nossa identidade, o nosso destino, a nossa missão como povo (se houver alguma) e a intervenção que cada um deva ter na vida política que é de todos.

P.S. Salazar nunca foi além de Badajoz, o que diz muito sobre a sua visão do país. Terá sido o único?

terça-feira, 28 de julho de 2009

BlogConf

Ontem o Primeiro-Ministro tentou fazer o que o Paulo Rangel já tinha iniciado antes das Europeias: uma conferência com bloggers. No entanto, se a do último foi um sucesso e era um convite aberto a todos os bloggers interessados, já a de José Sócrates foi limitada a 20 blogs, representados por apenas um blogger cada, com direito a também uma só pergunta. Infelizmente O Sensitivo não pôde estar presente, mas havia esperança em seguir a emissão em directo pela internet. Em baixo, um resumo do que saiu cá para fora, durante toda a conferência.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Para quem ainda tinha dúvidas...


"Ainda está para nascer um Primeiro-Ministro que tenha feito melhor no défice do que eu."

...o Pinto de Sousa acha-se mesmo o máximo. No seu mundinho, é o melhor Primeiro-Ministro que Portugal teve no pós-25 de Abril (e provavelmente o melhor de sempre). Não deve ter muitos portugueses a partilhar dessa ideia, mas no mundo do faz-de-conta, da imagem, dos magalhães e dos grandes comícios, isso também não interessa para nada. A novidade desta frase é nem lhe passar pela cabeça que venha um tão bom, ou melhor, nas décadas mais próximas. Mesmo que o "salvador da Pátria" nascesse hoje, só daqui a uns 40-50 anos seria Primeiro-Ministro. Sei que ele diria logo que não foi bem isto que disse, mas tratando-se do Sócrates, aquele "ainda está para nascer" é claro como água quanto ao que lhe vai no espírito.

sábado, 18 de julho de 2009

Modesta "Intelligentsia"


Eis que a tão falada convergência de esquerda está ser conseguida (não na perfeição, é claro) pelo António Costa. O actual nº 2 do PS conseguiu fazer as pazes com a Helena Roseta, representante da ala dissidente do PS cá do sítio, “absorveu” o renegado do BE, José Sá Fernandes, tem a bênção do “Papa” comunista José Saramago e por último…tem o apoio da tão importante e decisiva “intelligentsia” deste pedaço de terra! (Como é que é?)

Pois, este grupo de intelectuais, ou pseudo-intelectuais, artistas e actores, a “intelligentsia” segundo um dos próprios (nada modesto), está ao lado de António Costa. Só faltou dizerem que os que não o apoiam (particularmente os que apoiam o Pedro Santana Lopes, cheira-me) são uma cambada de burros. Para mim, alguém com o apoio do Saramago e do Sá Fernandes (o tal que fazia falta a Lisboa para embargar o túnel e prolongar as obras e o trânsito caótico naquela zona da cidade) não pode ser mesmo uma boa aposta e só por si, esses apoios e alianças são motivo mais do suficiente para se desconfiar e não se votar em António Costa. Sou automaticamente excluído do “grupo dos inteligentes”, mas paciência, não é algo que me tire o sono.

Realmente o Santana consegue mesmo fazer comichão a muita gente. No fundo, é ele o verdadeiro responsável por esta convergência de esquerda lisboeta.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sedes II

Olá a todos. Peço desculpa pela demora, mas aqui estão, finalmente, as prometidas palavras do Galacho sobre o congresso da Sedes. Finalmente ipsis verbis aquilo que não coube em comentário...

"Bem já que o excelentíssimo Formiga me referiu no seu post (tal como já me tinha pedido pessoalmente) cá venho eu dar a "minha achega" em estilo de comentário.
Eu tinha pensado fazê-lo numa vertente mais caricatural do que é um congresso sobre o estado da democracia (que não foi bem isso...) para duas crianças (vá!... dois jovens) no meio de uma "plateia" recheada de pessoas de renome da nossa sociedade, nas mais diversas áreas (mas principalmente na economia) e, acima de tudo, na faixa etária situada maioritariamente nos 60+. No entanto, depois de uma "acta" com tamanha qualidade, terei que desviar o foco do meu comentário para uma análise mais séria do que se passou e do que foi (ou não) discutido. Espero não cair na tentação do meu propósito inicial...
Antes de mais, gostaria de ressalvar algumas coisas que me parecem importantes. Primeiro, a tal ausência de pessoas da nossa idade ou das gerações imediatamente a seguir. Não que eu estivesse à espera de ver uma plateia repleta de estudantes (já que quer se queira, quer não, eram 60 euros ... e isso ainda pesa no nosso orçamento) mas, já da geração seguinte (30/40 anos), estava à espera de ver bastantes, já que teórica e supostamente já têm um rendimento que lhes permite gastar 60 euros num congresso como este, mas…o que é facto é que nem vê-los (a não ser talvez um ou outro na parte da tarde... mas, ainda assim, muito poucos para o que estava à espera). Bem cada um poderá tirar as ilações que quiser, agora, que eu não acho normal, não acho...
Segundo, o já referido desinteresse dos media, face ao conteúdo do próprio congresso. Este é relativamente justificável já que foram algumas vezes citados ao longo do congresso e não pelas melhores razões, devido à falta de informação imparcial e à falta de debate de ideias relativamente a questões fulcrais (como a estratégia para o país). Nenhum meio de comunicação social vai admitir a fraca qualidade dos seus conteúdos e por isso … mais vale "zarpar" da sala enquanto é tempo.
Terceiro, a ausência de pessoas com elevados cargos em partidos políticos. Este facto, a mim, pessoalmente, agradou-me já que, tal como o Prof. Campos e Cunha declarou, garantiu que aquele congresso não iria ter qualquer conotação política "fosse para que lado fosse" tratando-se assim, acima de tudo, de um debate de ideias (e não cores políticas). Não deixa também de ser um sinal de como os partidos "se estão lixando" para a opinião das pessoas sobre "eles" e a própria democracia, o que também é deveras revelador (mas não surpreendente, creio …).
Quarto, eu, muito sinceramente, achava que o congresso ia ser algo diferente, principalmente com a palestra do Prof. Ronald Findlay e do Dr. Pedro Magalhães, a ser mais focada no factor democracia e na qualidade da mesma, nomeadamente dos seus agentes (já que são eles que "lhe dão qualidade" ou não). Porém, o debate foi focado essencialmente na vertente económica da situação actual e em possíveis rumos para o futuro. No entanto, para mim, que gosto bastante de pensar sobre os mais diversos temas, mas gosto pouco de ler para me informar sobre eles e sendo este(s) (quer a democracia quer a economia) tão importantes, o congresso foi interessantíssimo e valeu bem "o investimento".
Quinto, ainda de realçar a ausência do Prof. Medina Carreira que depois das suas últimas intervenções nos media, eu gostaria tanto de ter visto no congresso, mas que, pelos vistos, não foi possível.
Após este longuíssimo preâmbulo, vou passar à análise do conteúdo das diversas intervenções.
Começando pelo início como deve ser, a intervenção do Prof. Ronald Findlay foi bastante interessante, como já disse o Formiga, e no fundo funcionou como um resumo de um semestre de aulas com o Prof. Luciano Amaral com enfoque primordial sobre a vertente da globalização. Desde os "descobrimentos ibéricos", aos impérios francês e inglês, respectivamente primeiros e segundos impérios coloniais, ao caso do Japão e ao porquê de este não ter sido colonializado como por exemplo a China e a Índia, foi uma boa lição de História. Depois revelou ainda que achava que não era sustentável um país com 5% da população mundial (os EUA) deter 25% da riqueza mundial e que, portanto, esta crise teria que acontecer um dia para "regularizar" essa situação. Disse ainda que não vê com maus olhos uma "melhor distribuição mundial dos rendimentos" e acha que esta crise é uma oportunidade para adaptarmos o nosso estilo de vida a essa inevitabilidade. Referiu ainda os B(rasil)R(ussia)I(ndia)C(hina) como os que se comportarão melhor e que por isso "beneficiarão" com esta crise. Seguiram-se as perguntas em que se ficou por respostas vagas e eminentemente teóricas, que apesar de tudo deram para retirar que vê a Europa como potência social (e por isso com um papel "educador") mas não como uma potência económica (deixemos isso para os EUA... que isso é que lhes dá jeito).
A intervenção do Prof. João Salgueiro, que começou pelas causas da crise internacional e que depois se focou mais no caso nacional e dos erros e das oportunidades que podemos aproveitar. Assim, começou por dizer que a iminência da crise estava visível para todos devido à falta de regulação, à subida de preços do imobiliário nos EUA e a especulação desmedida existente. No entanto, ninguém teve coragem para travar o crescimento que daí adveio e chegou-se a considerar que esses factores como "dopping útil à Economia". Isto levou à crise bancária e, associado ao crescimento da China, à crise de competitividade em vários sectores, que depois se verificou, e que todos conhecemos. Relativamente a Portugal, tal como foi referido pelo Formiga, considera que "Portugal não pensa", não pensa antes de fazer alguma coisa porque está à espera que a UE decida e não pensa depois porque aceita as directivas da UE cegamente. Mencionou ainda algumas coisas que podem ser facilmente melhoradas como a existência de uma política estratégica de exportação a nível mundial e não só para a UE (já que a nossa posição dita "periférica" nos dá grandes vantagens de relações com a América e que por causa dos países de língua portuguesa temos ainda relações privilegiadas com a China (só não vão para a China apregoar a nossa mão-de-obra barata, por favor… - digo eu)) e ainda a péssima estratégia de "convergência para a média Europeia em 30 anos", aquando da adesão à UE, considerando-a uma "estratégia de falência" (ainda para mais quando em vez de convergirmos divergimos) e dando o exemplo do sector bancário que se tivesse feito o mesmo já teria falido há muito. Falou ainda da importância do investimento em bens transaccionáveis já que a melhoria da economia só poderá ser conseguida através do aumento das exportações.
Depois do almoço foram revelados os resultados do estudo numa intervenção que a mim pessoalmente me decepcionou. Isto porque o Dr. Pedro Magalhães passou uma boa parte do seu tempo a explicar como fazer um estudo daquele género e quantas perguntas precisavam para cada coisa, porquê, etc., etc. e muito sinceramente, ali, o que menos interessava, era isso. Depois também pecou pela falta de ambição nas conclusões que poderiam ser tiradas do estudo nomeadamente relativo à fraca qualidade das pessoas "que fazem política" em Portugal ... ou seja "à falta de política". Houve ainda uma pergunta bastante pertinente nesta fase de uma senhora que, segundo a própria, formou a Fenprof e se encontra agora reformada ("graças a deus...", segundo a mesma) sobre o papel da educação em todo este processo... Se toda esta crise não tem como base uma crise na educação que beneficia cada vez mais a mediocridade em vez da excelência (tão evidente que isso é no objectivo de convergir para a média europeia em 30 anos...) ... eu concordo com a questão levantada, mas creio que essa só tem solução a longo prazo e, portanto, apesar de ser urgente a sua resolução, é mais premente a adopção de medidas que resolvam os problemas gravíssimos que temos de curto/médio prazo.
Sobre a mesa do contexto económico creio que o Formiga fez um excelente resumo do que se passou, sendo que eu gostaria de realçar alguns factos. Primeiro, a opinião geral de que Portugal vai crescer pouco no médio/longo prazo, o que cria graves problemas. Depois, a necessidade de redução dos gastos nesse mesmo horizonte temporal, já que, como é sabido, são eles que determinam a carga fiscal e a dívida do Estado o que, tendo em conta o peso dos mesmos no PIB real, torna esse problema gravíssimo para o nosso país. Terceiro, a ideia de que, em termos de investimento, é preciso qualidade e não quantidade para se poder rentabilizar da melhor maneira o dinheiro, o que é tão importante em tempos de crise, como os actuais (isto depois de ter sido mostrado pelo Dr. Silva Lopes que apesar de termos tido níveis de investimento elevados tivemos o mesmo crescimento que países com níveis mais baixos)... isto vem em linha com as políticas de ensino que deviam beneficiar a excelência em vez da mediocridade... parece que é estratégia política (mas isto, sou eu a pensar alto...). Quarto, a importância da implementação de medidas severas e extremas, já que ao contrário do que acontece normalmente, as medidas graduais não têm custos menores. Por fim, de realçar a importância do aumento da competitividade, nomeadamente através de mais e melhor concorrência, em sectores específicos em que Portugal tenha vantagens comparativas e não em sectores como o automóvel em que isso não é possível, com particular enfoque nos bens transaccionáveis, nunca esquecendo a necessidade da diminuição dos preços nos não transaccionáveis, já que, se isso não acontecer, o custo dos transaccionáveis continuará alto.
Por fim, o Prof. José Tavares disse ainda que se deveria ter uma política diferente relativamente às empresas que declaram falência, já que, em vez de proteger empregos, o Estado devia facilitar a integração das pessoas no mercado de trabalho porque esses casos são maioritariamente casos de polícia (não merecendo essas empresas a ajuda do Estado).
Houve ainda uma componente interessante deste congresso, que foram os cafés e o almoço em que para além de se "comer e beber" se via que servia de networking e de partilha de ideias e de contactos entre os diversos intervenientes, o que fazia destas alturas não um tempo morto mas, como que uma continuação do que era feito na sala de conferências, mas num ambiente mais informal.
Muito mais poderia ser dito sobre este congresso (sobre o seu conteúdo e sobre as nossas "aventuras") mas fica aqui o essencial do que foi para quem não teve a possibilidade de comparecer.
Peço desculpa por qualquer erro ou pela escrita excessivamente "confusa" mas não me apetece rever o que escrevi porque a hora já vai adiantada...
Cumpri assim a minha promessa ao Formiga. E já sabes para a próxima avisa que eu vou :P
Abraço"

domingo, 12 de julho de 2009

Pré-Férias


Há 6 meses ninguém poderia adivinhar como andaria hoje o PS. Mas desde as Europeias, aquilo lá pelo Rato anda mesmo uma alegria pegada. Já tive oportunidade de o constatar num comentário meu aqui. Nessa altura os ratinhos já andavam todos desnorteados com o Mário Lino a dizer que já não tinha idade para ser ministro, com o António Costa a afastar-se do governo, ao qual já pertenceu, afirmando que o Ministério das Obras Públicas estava cheio de “nódoas” e com o Manuel Pinho a resolver antecipar as suas férias com uns belos “corninhos”. O Sócrates não devia ver a hora das férias chegar, para ver se todos se acalmavam um pouco.

Mas a julgar pelos acontecimentos mais recentes, acho que o Pinto de Sousa vai ter pouca sorte e o seu maior problema não será o PSD, mas sim o próprio PS. Primeiro veio a proibição de candidaturas conjuntas (o que acho muito bem), que tem feito correr já alguma tinta. A nossa “querida” Ana Gomes, respondendo ao repto de Manuel Alegre, disse que não recebia lições de moral do poeta socialista e a “coitada” da Elisa Ferreira, começa a ouvir vozes a favor da substituição da sua candidatura à Câmara do Porto. Depois, para os portugueses em geral e os lisboetas em particular, terem a certeza do afastamento do António Costa (nº2 do PS) em relação a este governo, o próprio, não satisfeito com o primeiro ataque ao Ministério das Obras Públicas, voltou, ontem, a atacar o dito Ministério mais o Ministério da Administração Interna (se as eleições ainda estivessem muito longe, ele tinha tempo para ir atacando aos poucos todos os Ministérios e, se calhar, jurar a pés juntos que nunca fez parte deste governo). Por fim e quando parecia que os socialistas andavam a fazer as pazes com o Manuel Alegre, eis que, também ontem, o poeta socialista voltou a fazer-se ouvir e pediu que se mudem urgentemente as políticas e as pessoas do PS. O José Lello claro que não podia perder uma oportunidade para voltar a entrar em conflito com o poeta Alegre (deve ser o seu amor de estimação).

O Pinto de Sousa nem deve estar a acreditar no que se anda a passar! Teve que voltar a defender a candidatura da Elisa Ferreira, apesar das sondagens desastrosas, pois foi uma escolha pessoal (e agora o mal já está feito, era um bocado mau mudar a menos de 3 meses), preferiu realçar o que o une ao Manuel Alegre (a vontade que o PS vença), esquecendo as críticas que lhe eram dirigidas e quanto ao ataque do António Costa nem um piu!

Contudo e por incrível que pareça, o PS lá se vai aguentando nas sondagens, numas à frente, noutras atrás, mas sempre em empate técnico. E o PSD continua a não captar eleitorado. Continua na casa dos trinta e picos por cento (sensivelmente o mesmo das europeias) e o eleitorado que fugiu do PS foi quase todo para a esquerda. A culpa do “estado a que isto chegou” não é só dos governos, é também das oposições. Para mim, não é compreensível que com quatro anos e meio deste governo e com as palhaçadas que se têm sucedido, o PSD não consiga estar claramente à frente do PS nas sondagens (ou que não consiga vencer claramente o PS nas europeias, beneficiando antes do péssimo resultado que esse partido teve). O eleitorado que fugiu do PS foi o que se situa mais à esquerda, não o que se situa mais ao centro (e que o PSD deveria conseguir captar). Esse mais ao centro continua a preferir o PS e não olha ainda para o PSD como uma real alternativa de governo. Goste-se ou não da Dra. Manuela Ferreira Leite, se o PSD perder em Setembro, ou mesmo que ganhe por uma margem pequena (não podemos nunca ficar contentes se quase 60% do parlamento estiver à esquerda), a culpa será só sua (partido). Se os portugueses quiserem mesmo uma mudança, a escolha não pode ser só entre quem lá está e quem já lá esteve. Pena o partido não ter percebido isso. Mas ainda faltam 2 meses e meio, não é muito, mas em política pode mudar muita coisa.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Que Sensitivo-Psiquiatrice Tão Aguda!!


Primeiro o PSD proibiu as candidaturas conjuntas aos membros do seu partido. Há poucos dias o PS seguiu-lhe o exemplo. O problema é que o PS foi atrás dos acontecimentos. No fundo, só proibiram em virtude dos resultados negativos que se esperam para as pessoas visadas. Foi para tentar limpar a imagem, só que agora é tarde. As pessoas visadas já concorreram a uma eleição e preparam-se agora para a próxima.

Mas eis que aparece o poeta socialista (de quem agora todos, lá pelo Rato, gostam) com a solução definitiva: “Escolham!”

Não podia estar mais de acordo consigo, meu caríssimo, mas eis a sensitivo-psiquiatrice que se apresenta agora às nossas “queridas” Ana Gomes e Elisa Ferreira: o lugar e o salário de Bruxelas já estão garantidíssimos mas era de péssimo gosto escolherem Bruxelas. O ideal, para limpar a tal imagem e para tentar lançar, com alguma credibilidade, a candidatura às respectivas autarquias, seria escolherem Sintra e o Porto. Só que aí a derrota é quase, quase, certa e depois ficam sem as autarquias e sem Bruxelas.

Elas deviam andar a rezar a todos os anjinhos para não se tocar muito nesse assunto e para a situação ficar em “banho-maria” até às eleições, por isso devem estar felicíssimas e radiantes com o ultimatum que hoje lhes lançou (agora a comunicação social deverá andar atrás delas à espera de uma resposta). Eu não podia estar mais satisfeito com o contributo que hoje deu para a qualidade democrática deste país. De certeza que muitos munícipes de Sintra e do Porto concordarão comigo. Agora não se admire se, num qualquer próximo evento socialista, as respectivas visadas (não lhes quis chamar Senhoras…principalmente à Ana Gomes) lhe virarem a cara. Mas paciência! Também não perde grande coisa!

domingo, 5 de julho de 2009

Sedes

A conferência da Sedes começou com uma breve apresentação do Prof. Luís Campos e Cunha desmarcando a organização e a conferência de tendências politicas ou eleitoralistas, salientando este que os objectivos da Sedes passavam pela discussão do estado da democracia e do nosso país e não das políticas deste ou daquele governo. Claramente foi uma declaração a avisar os media de que não iriam ser feitos ataques políticos durante o dia e provavelmente teve resultado, dado que depois de almoço a maioria das câmaras se tinha ido embora.
A conferência propriamente dita começou com uma palestra bastante interessante do Prof. Robert Findlay em que este fez uma breve análise da globalização e dos seus mais de 500 anos de história, considerando os portugueses como “culpados” desse fenómeno. No final fez uma breve análise do estado económico do mundo e nomeou alguns países que ele considera que terão desempenhos económicos de excelência no futuro. Rússia, Índia, China, Brasil, EUA e tigres asiáticos foram os países destacados. Na sessão de perguntas que se seguiu o Prof. João Salgueiro abriu as hostilidades (no seu habitual tom provocativo) com uma pergunta sobre a Europa (que não tinha sido referida naquele conjunto de potências) à qual Robert Findlay não respondeu, preferindo ressaltar o papel da Europa enquanto veículo democratizador. A ideia que fica é que a Europa continuará, para o Prof., a crescer a taxas mais ou menos constantes e baixas e que o seu papel no mundo é o da educação e mediação e não o de liderar a mudança e o desenvolvimento. A pergunta seguinte foi sobre a opinião do Prof. sobre África e foi respondida com lugares comuns (se os problemas democráticos forem resolvidos, se houver instituições credíveis, etc.), assim como a última pergunta, da lavra do Eng. Henrique Neto.
Seguiu-se um breve intervalo para café e a intervenção do Prof. João Salgueiro sobre a crise e, em especial, sobre a economia portuguesa. No seu estilo habitual o Prof. considerou que os políticos portugueses têm dado “doping à economia” e que atravessamos uma grave crises estrutural e de competitividade, fazendo um apelo para que fossem ali discutidas durante o dia formas de ultrapassar essa crise. O Prof. falou de alguns erros cometidos como o facto de pensarmos que somos demasiado pequenos para sermos competitivos, ou o de pensarmos ser demasiado periféricos, assim como de alguns complexos, nomeadamente a dependência da UE, – “Portugal não pensa sem ouvir a União Europeia”, “Queremos ser mais europeus que os outros” –, ressalvando no entanto que essa dependência não era unicamente portuguesa mas que representava um problema que devia ser resolvido. Referiu-se ainda ao facto de o objectivo principal da adesão portuguesa à União europeia não estar a ser cumprido desde o início do século (convergência para a média europeia) e de ninguém falar disso, – “Eu não queria dizer trapaça porque acho muito forte, arranjem-me aí uma palavra mais simpática” – dizendo aí que se a banca portuguesa tivesse convergido para a média europeia em 30 anos, o dito objectivo para Portugal, já teria sido comprada pelos franceses.
Outro dos complexos referidos foi o da maioria dos portugueses contra os empresários e empreendedores – “Os empreendedores são uma espécie sujeita à caça sem reserva” – e disse que os nossos empreendedores não eram piores do que os do resto da Europa, pois “não vejo nenhuma fila em Badajoz para entrar em Portugal”. Referiu-se ainda ironicamente ás directivas europeias de que Portugal está sempre à espera dizendo que não é preciso haver preocupações com a estabilidade democrática em Portugal pois “há uma directiva europeia que proíbe os golpes de estado”. Seguiu-se nova sessão de perguntas a que o Presidente da associação de bancos respondeu da mesma maneira, ressalvando o nosso problema de competitividade e a necessidade de o resolvermos. Saliento no entanto a sua resposta a uma pergunta em que falou dos seus tempos de governação, dizendo que quando esteve no governo a sua missão não foi, nem podia ser, alterar os problemas estruturais do país, mas sim aguentar o governo de modo a que se pudesse fazer a revisão constitucional. Fez a campanha seguinte porque achou que deveria, em coerência com as ideias defendidas, fazê-la, mas que não gostou do que viu ao nível dos partidos já nessa altura. As palavras foram mais ou menos as de que já tinha saído do governo de Marcelo Caetano quando percebera estar iludido ao pensar que ele faria aquilo que mais tarde foi feito em Espanha, e que, nessa altura, decidira não participar em mais nenhum governo. Só o período de excepção em causa o fez voltar atrás.
O estudo sobre a democracia ficará em breve disponível no site da sedes (eles recomendam que sigamos o blog pois poderá haver algumas intervenções lá) portanto não me vou alongar grandemente sobre o mesmo. Basta dizer que os portugueses acreditam que a democracia funciona, só não acredita nos seus agentes políticos no momento nem que a sua voz seja ouvida por estes. Os portugueses não acreditam igualmente que a justiça não seja influenciada pela política e duvidam também da total isenção das televisões (será por isto que o congresso teve tão pouca repercussão mediática?). Das perguntas feitas a Pedro Magalhães, autor do estudo, ficaram no ar algumas sugestões para o futuro, nomeadamente a do estudo de quanto valoriza cada português a democracia.
Chegados finalmente à mesa do novo contexto económico, cujos participantes foram escolhidos por Vítor Bento, foi curioso notar como desde o início o tom dos oradores foi diferente. O Professor Silva Lopes começou, falou sobretudo da crise conjuntural internacional e portuguesa, defendendo o investimento útil (importa ressalvar a palavra útil, porque não a vi no jornal que li à bocado) que não tem sido feito nos últimos anos. Defendeu igualmente a subida do investimento para o nível de 20% (está nos 18%, mas já esteve perto dos 40, sem que tenhamos tido melhores resultados) e disse sobre o défice e o endividamento que mesmo ele, que sempre alertou nos últimos anos para a necessidade premente de resolver esses dois problemas, achava que Portugal devia investir mais, chamando a atenção que o actual défice previsto para Portugal é inferior à média prevista para a UE pela OCDE. Há pouca margem de manobra, é certo, mas deveríamos utilizá-la, foi essa a ideia base a reter, sendo que investimentos como o TGV são considerados dispensáveis, pelo seu cariz internacional e pelo tempo elevado que leva a concretizar. “As senhoras que vão todos os dias ao cabeleireiro”, foi a expressão utilizada para sintetizar a sua ideia do que seria o bom consumo e investimento (em bens nacionais e dirigido ás PME).
O professor Daniel Bessa optou por focar-se inteiramente na crise estrutural. Foi bastante duro com as politicas seguidas nos últimos anos e defendeu a necessidade urgente de Portugal se tornar mais competitivo. Perguntou porque não se via, por exemplo, a saúde como um transaccionável, e esteve, basicamente, na mesma linha que o professor João Salgueiro. Chamou no entanto a atenção para o seu desacordo com os números do Professor Silva Lopes sobre o défice, dado que no primeiro trimestre houve uma quebra de receitas de 20% e mesmo que esta fique apenas em 10% no total do ano o défice, tendo em conta essa queda, nunca poderá ficar abaixo dos 7%. “Entre 7 e 14 há muito espaço” disse, e serviu-se disso para se opor à subida do investimento e para pedir cuidado com as contas públicas pois o problema estrutural das mesmas “não foi corrigido nos últimos 5 anos”.
O nosso bem conhecido José Tavares fez uma apresentação mais técnica, sendo que por mais técnica se entende quase uma aula, em que focou alguns aspectos interessantes, nomeadamente o da crise ser uma oportunidade para reformas profundas, pois o custo de oportunidade de as fazer decresce, salientando no entanto que duvidava que houvesse espaço para isso em Portugal. Sobre a crise do sistema financeiro, já debelada, considerou-a como natural e como o instrumento que permitia aferir sobre a utilidade dos novos produtos financeiros, dizendo que os maus foram recusados e afastados e que os bons, que criavam valor, ficariam.
A sessão de perguntas que se seguiu foi aberta por uma dura intervenção do Professor João Salgueiro, pedindo que a discussão se focasse na crise estrutural portuguesa e criticando os participantes por não terem estado presentes de manhã e perderem tempo a repetir algumas coisas que já tinham sido ditas (nomeadamente por ele próprio). Respondendo a algumas palavras do Professor Silva Lopes sobre a necessidade de mais regulação do sistema financeiro disse que no caso português já havia demasiada regulação e que era preciso ter cuidado com isso, baseando a sua resposta no facto de os bancos que tinham tido problemas em Portugal os terem tido devido a um caso de policia e a má gestão e não à crise financeira e à exposição a produtos tóxicos propriamente ditos. Voltou a falar do cuidado a ter com as ditas “normas europeias” que viriam regular tudo, revelando o seu temor de que se possa verificar um excesso de burocracia tal que paralise a actividade bancária.
Os participantes tiveram 5 minutos cada para tentar responder brevemente a todas as perguntas colocadas e, desses 5 minutos, destacaria a última intervenção do Professor José Tavares, falando finalmente da situação portuguesa, questionando a industrialização defendida por alguns dos participantes (pois para sermos competitivos na industria teríamos de baixar salários) e falando do caso Irlandês em que, há 5 anos, foram recusados projectos de produção automóvel como o da Auto-Europa pois não era aquilo que eles consideravam o lugar da Irlanda produzir. Nem o da Irlanda nem o da Europa aliás, segundo os próprios Irlandeses, pois os custos de produção seriam sempre muito mais elevados do que noutros países do mundo.

O Galacho é livre de comentar longamente e preencher muita coisa de que a minha cabeça leviana se esqueceu. Agora com licença, cumpri a promessa e vou dormir. Até daqui a um mês.

sábado, 4 de julho de 2009

Sobre a Sedes

Espanta-me a pouca atenção mediática à conferência. Houve jornalistas que saíram a meio da conferência do prof. João Salgueiro e nenhum (pelo menos televisivo) esteve presente na mesa redonda do contexto económico. Não vi os telejornais, mas olhei-os de alto e não me pareceu que sequer o estudo em si tivesse grande atenção. É preocupante porque aquilo que se disse deveria fazer acordar muita gente (talvez os media ficassem ofendidos com as duras criticas ouvidas durante a conferência ao seu trabalho), mas parece que quando alguns dos melhores economistas deste país se juntam para falar sobre o país há pouca gente interessada. Manuel Pinho é mais importante, ao que parece, dado que vi em rodapé que o destaque da entrevista que fizeram no local ao Eng. Henrique Neto era sobre esse assunto.

Prometo para amanhã uma descrição pormenorizada do evento, mas para já queria deixar esta nota. Desilude-me a cobertura. Amanhã terei de comprar os jornais para ver se é sintomático ou apenas televisivo.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O Vergonhoso Estado da Nação


Podia ser na feira da ladra. Podia ser numa qualquer sala de aula de uma qualquer escola deste país. Mas era mesmo no Palácio de São Bento que se estava a discutir o Estado da Nação. Vi deputados a berrarem uns com os outros. Vi o líder da bancada parlamentar do maior partido da oposição e o Presidente da Assembleia da República (2ª figura de Estado) a zangarem-se, quais duas comadres (Não está! Estou! Não está! Estou! Não está!). Vi um Ministro de Portugal a fazer “corninhos” a um deputado...

Não interessa (muito) quem disse o quê e quem tinha ou não razão. O que interessa é que tudo isto se passou no Parlamento Nacional. Lembra-me o descrédito das Instituições de que o Formiga costuma falar. Estou curioso para ver amanhã os resultados do estudo da SEDES sobre a qualidade da Democracia em Portugal.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Cá para mim...

Isto da saída de Manuel Pinho é uma campanha branca para que amanhã não se fale muito do que for dito no Instituto da Defesa Nacional.

Mais uma semana negra para Sócrates, ele próprio em grande plano no debate.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Se Madoff fosse português...


"Para começar, se Madoff fosse português, dificilmente seria apanhado. Se fosse apanhado Maria José Morgado daria oito entrevistas sobre o assunto, o processo estaria "em investigação" durante 3 anos, quatro jornalistas seriam condenados por "violação do segredo de justiça", mais cinco anos de expedientes diversos, dois de férias judiciais e mais quatro de recursos. No fim, Madoff seria ilibado sem que tivesse ficado provada a existência de qualquer fraude."

Rodrigo Moita de Deus para o 31 da Armada. Provavelmente aconteceria algo do género. Para quem não sabe, Madoff (já!) foi condenado a 150 anos de prisão.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Coisas que os Portugueses deviam ver e ouvir


Estou a pensar muito seriamente ir a isto. Alguém se me junta?
40 euros para sócios, 60 para não sócios.

sábado, 27 de junho de 2009

As Bicicletas-Restrição

Para quem não sabe, os Ladrões de Bicicletas ocupam um nicho muito peculiar na blogosfera portuguesa. Os seus autores são economistas e/ou professores universitários das áreas da Economia e Sociologia, e lida, essencialmente, com temas económicos - mas com uma restrição que funciona como factor de diferenciação: os seus autores são, ideologicamente, muito mais à esquerda do que é comum em indíviduos com o seu tipo de formação: um velho adágio que corre pelas faculdades de economia enuncia que meia dúzia de aulas de microeconomia são o ideal para se curar um comunista.

Recentemente, os Ladrões fizeram uma breve referência ao manifesto dos 28 senhores que se insurgiram contra o novo leviatão das finanças públicas, o TGV, referência essa intitulada Os economistas-restrição [ou os economistas-problema]. Os autores consideram que não é feita uma lista ampla de problemas sérios da nossa economia (não é esse o propósito do manifesto), não se apontem oportunidades e não se ambicione mais do que travar. A questão que eu coloco é a seguinte: se o projecto é mau, porque é que não há de ser travado? Aparenta ter tido início, neste século XXI, um movimento antagónico ao tradicional português bota-abaixismo - o bota-abaixo do bota-abaixismo, levado ao extremo no caso particular destes indíviduos. Os 28 senhores que traçaram o manifesto não fizeram mais do que lhes incubia - estão em pleno direito (e dever) de exercício das funções de monitorização e fiscalização da actividade democrática do poder executivo e governativo, que é incubido à sociedade civil (à qual os 28 senhores pertencem) em qualquer Estado de Direito Democrático moderno. Uma asneira ia ser feita, e esses senhores travaram-na. E agora são atacados, pela so-called "esquerda democrática" por causa disso.

Gostaria então, em face dos duros comentário d'Os Ladrões, de enunciar uma pequena série de pontos:
  1. Queixam-se da falta de alternativas e de oportunidades presente no manifesto. A contenção da dívida pública nacional, que cada vez mais se aproxima de um percurso explosivo, não é já de si uma alternativa nobre e muito mais respeitadora das gerações futuras, do que uma Torre de Babel para cujo impacto não existem estudos sérios?
  2. Já alguma vez alguém viu o BE ou a CDU lançar alternativas credíveis e exequíveis que se alinhassem, na sua totalidade, com as matrizes ideológicas defendidas? Eu posso andar distraído, mas tal não me tem passado à frente dos olhos. Pela mesma ordem de ideias destes senhores, estes dois partidos (e já agora, toda a oposição) deveria ser excluída da Assembleia da República - afinal de contas, não passam de um bando de chatos que andam por ali a "travar" o progresso!
  3. Repito: é direito, mas acima de tudo um dever, da sociedade civil a monitorização e fiscalização da actividade do poder executivo. É uma das características mais essenciais do nosso sistema democrático. E enquanto a sociedade civil mais protestar, mais intervir e mais decidir, mais democrático se tornará Portugal.
Quer se concorde, ou não, com o propósito do manifesto - que nem é a travagem, mas sim, como o seu nome indica, a reavaliação (ou melhor diria, a avaliação, pois esta ainda nem foi feita de forma minimamente séria) - o facto é que, dadas estas três razões, pouco mais posso fazer do que discordar na íntegra com a posição assumida pelo Prof. Doutor José Reis, Professor Catedrático da Universidade de Coimbra, membro da equipa d'Os Ladrões, e autor do post ao qual esta critique se dirige.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Em Defesa do TGV

O TGV é um projecto “estratégico” e “estruturante” que aproxima Portugal da Europa. Portugal tem que seguir a liderança de Obama que investe em Alta velocidade para recuperar a economia dos EUA. O TGV é a chave duma nova centralidade global. É indiscutível que Portugal não pode ficar de fora da rede europeia de alta velocidade. Infelizmente, estamos num país onde a inovacao e o progresso são fonte de inveja e mal dizer. Devemos fazer o TGV porque Lisboa corre risco de ser maior capital europeia sem TGV. Um dos signatários do manifesto dos 28 nem sequer é licenciado. Se não fizermos o TGV perdemos os fundos comunitários. O TGV vai valorizar os nossos portos. Levará as nossas exportações à Europa. Só quem não é Europeu é que não quer o TGV… é sádico, gosta de ser sempre um coitadinho de um pobrezinho à beira mar. Quem não gosta do TGV não gosta de Portugal Moderno. Portugal não pode ficar atrás no TGV como quase sempre fica atrás de tudo. Este é o momento de fazer, não é o momento de adiar. O PS é o partido da acção, o PSD é o partido do travão.

Originalmente postado por João Miranda no Blasfémias.

domingo, 21 de junho de 2009

Campanha negra querem ver?


“Os desequilíbrios estruturais que atingem a economia portuguesa, que têm vindo a piorar na última década e que se agravaram com a actual crise económica mundial, não são compatíveis com a insistência em investimentos públicos de baixa ou nula rentabilidade e com fraca criação de emprego em Portugal.”

A frase podia ser de Manuela Ferreira Leite e lá estaria ela outra vez a embirrar com o Sócrates e com o Mário Lino. Mas não é. Faz parte de um manifesto, apresentado ontem por cerca de 30 economistas portugueses, defendendo que projectos como o TGV, as novas auto-estradas e até o calendário para a construção do novo aeroporto de Lisboa devem ser repensados urgentemente.
Entre os signatários encontram-se vários antigos ministros do PS e do PSD como Luís Campos e Cunha, Augusto Mateus, Daniel Bessa, Medina Carreira, Eduardo Catroga, Miguel Beleza, Miguel Cadilhe, Mira Amaral, Silva Lopes, Arlindo Cunha, João Salgueiro e Manuel Jacinto Nunes.

sábado, 20 de junho de 2009

Sócrates "travestido"

Quem tenha andando mais distraído durante esta semana, não reparou que, nos últimos dias, o nosso “querido líder” “travestiu-se” (para usar um conceito tão caro ao próprio) num novo animal político. Anda mais simpático, com mais sorrisinhos, mais atencioso e com uma voz melosa e doce (tanto mel já me começa a enjoar…começo a ter saudades do tom agressivo). Nasceu um “novo” Sócrates! A dúvida do Formiga está desfeita. Sócrates deu uma de cordeirinho manso!

O “novo” Sócrates soa a falso e a hipócrita. O “novo” Sócrates até já admite erros! Para o “novo” Sócrates, o grande erro da sua governação foi não ter dado mais apoio à cultura… O QUÊ?!? Ok, isso até pode ser verdade, mas de certeza que não foi esse o motivo que fez o PS ter o desastroso resultado das Europeias. Afinal o “novo” Sócrates, tal como o “velho”, continua a gozar com os portugueses. Afinal o “novo” Sócrates continua a tratar os portugueses como uns atrasados e acredita que, com esta mudança, os portugueses vão esquecer mais de 4 anos de governação socrática.

Mas, felizmente, o “novo” Sócrates também tem prazo de validade: as legislativas de Setembro. Até lá, iremos assistir a mais momentos como o da sua primeira entrevista, pós-Europeias. "Parte-se-me o coração" as eleições não serem já amanhã para se acabar com este circo todo. Em baixo, dois pequenos vídeos do Sócrates "travestido". Deliciem-se com o mel!


Não consegui colocar o 2º vídeo, fica o link: http://videos.sapo.pt/ruPpAfGPADQJ1cHFPWyY

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Yes, he can!

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Eu sei que é politicamente correcto “adorá-lo” na América e deve-o ser ainda mais na Europa, mas enquanto estava a dar uma vista de olhos pelo Insurgente, encontrei este vídeo e não pude deixar de o partilhar. Um olhar diferente sobre Obama e sobre a evolução da dívida pública americana.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Teimoso até ao fim!


“O projecto ferroviário de alta velocidade em Portugal é para o Governo uma prioridade política. De acordo com todos os estudos disponíveis, os benefícios da rede de alta velocidade para o país são significativamente superiores aos seus custos”.

Se o Mário Lino o diz, deve ser verdade. Ele Jamais! se engana! Quanto aos estudos de que o Sr. Ministro fala, basta recordar o último post d’O Agitador e percebe-se logo que os mesmos são tão credíveis quanto os estudos que defendiam a construção do aeroporto na Ota. Depois da birra da Ota, a birra do TGV. Até Setembro ainda vamos aturar muito.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Balanço "agridoce"


"Doce":

  • O PS, o Pinto de Sousa e o avô cantigas perderam! Segundo as palavras do último há uns dias, deve ter sido “humilhante”! São os grandes derrotados da noite! Ganha Portugal!
  • O PSD ganhou! (e que ninguém diga que já sabia, porque é mentira) O Paulo Rangel revelou-se uma decisiva surpresa e, afinal, uma boa aposta da Manuela Ferreira Leite. Digam o que disserem, o PSD precisava mesmo de ganhar se queria partir para as legislativas com ânimo.
  • O CDS elegeu dois deputados e voltou a calar os que previam o seu fim! Um dos vencedores da noite! Goste-se ou não, Paulo Portas é um verdadeiro monstro político. (gostava mesmo de o ver como 1º Ministro)
  • O grupo dos democratas-cristãos e dos conservadores teve uma grande vitória por esta Europa fora, principalmente se tivermos em conta o abandono dos conservadores britânicos que querem formar um novo grupo e a culpa da crise económica que é atribuída aos “porcos capitalistas neo-liberais”. O PPE-DE ganhou, entre outros países e para além do nosso, na Alemanha, França, Itália, Espanha, Polónia, Holanda, Bélgica, Áustria, Irlanda, Hungria, Finlândia, Bulgária e Luxemburgo.
  • Os socialistas europeus foram os derrotados da noite.

"Agri":

  • A abstenção. 63%. Mais uma derrota para a democracia e a culpa é dos políticos. Mas os portugueses também não podem ficar em casa a dizer mal e esperar que as coisas mudem por “alma e graça do espírito santo”! Cabe-nos a nós participar mais! Exigir mais! E exigir melhor! E nestas eleições não houve a desculpa da praia ou da chuva. É puro desinteresse!
  • A extrema-esquerda! Juntos, BE e PCP conseguiram 21,4% dos votos! O BE transformou-se na 3ª força política e conseguiu eleger 3 deputados! Triplicou a representatividade no PE! Apesar de não ter vencido, para mim foi o vencedor da noite. Um claro sintoma de que algo vai (mesmo) mal e não é no Reino da Dinamarca.
  • O PSD ganhou, contudo só conseguiu ter 2,9% a mais do que com o Santana em 2005. E se formos analisar as sondagens de há poucos dias, este era mais ou menos o resultado esperado. Como referiu o Luís Delgado na SIC: “temos de ver se foi o PSD que teve um bom resultado ou se o PSD aguentou-se e foi o PS que teve um péssimo resultado”. Sem Rangel e sem Vital, vamos ver como se desenrola o confronto Manuela vs Sócrates. A esperança renasceu, mas não é suficiente para estar descansado.
  • O Paulo Rangel e o Nuno Melo vão para Bruxelas. Fica Lisboa a perder dois grandes políticos.
  • O nº de votos nulos e brancos quase que duplicou (6,63%) e junto com os votos noutros partidos perfizeram 12% dos votos totais. Nunca este valor foi tão elevado! Mais um sinal da cada vez maior desconfiança em relação aos “5 grandes”. A manter-se a tendência, poderá um novo partido ganhar representatividade na Assembleia daqui a 3 meses? (isto já seria "doce" e não "agri")
  • Tal como esperado, abstenção europeia foi a maior de sempre! 57%. Não é de admirar, com o respeito com que a UE e os seus políticos tratam os cidadãos europeus. Com a aprovação do Tratado de Lisboa em alguns países que não o queriam e com os vários referendos que foram prometidos e não cumpridos noutros, ficou no ar a ideia de que a opinião dos europeus, no fundo, não conta para nada. Não podem ficar admirados se depois as pessoas andem cada vez mais afastadas das instituições.
  • Também como esperado, a extrema-direita avançou em alguns países. Se quem nos governa não perceber o motivo, a tendência de subida poderá manter-se.

domingo, 7 de junho de 2009

Notas Soltas

- A tendência inverteu-se. Agora das duas uma, ou Sócrates aperta a repressão à contestação (será que os resultados podem ser desvalorizados como as manifestações?) ou dá uma de cordeirinho manso;
- Paulo Rangel assume-se como um sério candidato à sucessão no PSD caso Manuela falhe nas legislativas;
- O PP... O PP ganharia mais em falar menos das sondagens, oiço isto todas as eleições;
- A extrema-esquerda tem 22%. Anda muita gente por essa blogosfera fora preocupada com isso. Eu sou mais um;
- Os ministros vão debandando do Áltis. Premonição do futuro?
- É triste ver gente do PSD a celebrar isto como uma vitória de futebol. Não é. Estes resultados, a indicarem alguma coisa, indicam preocupação. Entre Sócrates e Louçã, prefiro Sócrates. O PSD vai à frente, mas 22% de EE tornam isto ingovernável;
- António Vitorino vai piscando o olho ao BE, Marcelo deixou de piscar o olho ao PS;
- A roubalheira do BPN mantém-se, mas desta vez em vez de roubarem os clientes roubaram o PS;
- O que é que prometeram ao Vital para ele vir dizer que "a culpa é totalmente sua"?;
- Sócrates voltou-se novamente para a diplomacia. Cheira-me que voltaremos a ouvir falar da cooperação estratégica, etc... Claramente a melhor reacção que Sócrates poderia ter. Do ponto de vista puramente político, palmas para ele;
- O Partido dos Piratas, obteve 7,4 por centos dos votos na Suécia;
- "O povo não esquece que a crise é do PS", nem que aqueles jovens exaltados fazem parte da juventude de um dos maiores partidos portugueses;
- Estas farpas do Rangel sobre a legitimidade do PS para aprovar projectos fracturantes em final de legislatura e sobre a vitória de partidos de poder de direita e derrota de partidos de poder de esquerda é qualquer coisa de maravilhoso;
- No Altis já se desmonta a casa. Fora sócrates, o PS de hoje foi triste. Sócrates sugou tudo à sua volta;
- Rangel e Nuno Melo ficam melhor a falar do que nos cartazes. Pontos para Manuela Ferreira Leite e para Paulo Portas. Um decidiu aparecer junto do seu candidato, a outra não, e ganharam os dois com isso;
- Nunca MFL achou que ia ser rock star;
- Ricardo Araújo Pereira, na SIC, não está a achar piada nenhuma a isto;
- Almeida Santos parece-me sempre Al Pacino naquele filme do Francis Ford Coppola;
- Na Madeira o PS vai 6% à frente do PP (14 vs 8). Alberto João nem à europa perdoa;
- Isto que Louçã diz agora é tudo verdade. E aí é que está o problema;
- Marcelo pisca o olho ao PP para acabar a noite. Este homem passa de querer tirar a maioria absoluta ao PS para querer maioria absoluta para uma coligação;
- As televisões fecham todas sem se saber para quem vai o último deputado. Parecendo que não, isso também era importante.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Altura de o voltar a encher


Já começaram as eleições para o Parlamento Europeu. Na Holanda e no Reino Unido votou-se ontem e na Irlanda votou-se hoje. Nos restantes países as eleições decorrerão ao longo deste fim-de-semana, principalmente no domingo, quando também votará Portugal. É hora de decidir os próximos 5 anos para a UE e numa altura em que o Parlamento Europeu ganha acrescidos poderes, O Sensitivo não fará parte do “partido” da abstenção. No domingo, votem!

Para quem ainda não conhece, este link poderá ser bastante interessante: http://www.euprofiler.eu/

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Votar

Não creio que possa expressar melhor do que o Martim Avillez Figueiredo no editorial de hoje do I a importância de votar. Seja em quem for.
No entanto, posso continuar uma discussão que estava a ter no outro dia com um dos membros deste blog sobre o merecedor da minha cruz no próximo Domingo. Devo confessar que comecei por olhar estas eleições com alguma preferência pela figura de Paulo Rangel. Rapidamente deixei de o ter.
Saiu no entanto hoje uma sondagem que dá empate técnico entre o PS e o PSD mas concede, pela primeira vez, vantagem ao partido do centro. A poucos dias das eleições, a confirmar-se a tendência de subida do PSD e tendo em conta o percurso desastroso de Vital Moreira, pode dar-se até o caso de o PS ser humilhado eleitoralmente. A verdade é que se gera a situação, pouco provável no início (pelo menos para mim), em que pode ser útil votar PSD.
Não útil para a UE, é certo. Algumas das propostas de Rangel fazem-me querer esconder debaixo da cama com medo do bicho Papão. Sim, temor e medo são mesmo as palavras certas. A verdade é que também não conheço por aí além o programa do PP para poder destacar pontos de rematado interesse e que valham o dito voto, mas mesmo assim creio que à direita é difícil mais demagogia do que a apresentada por algumas propostas de Rangel. Alguns membros deste blog discordarão de mim, concerteza, mas o caminho que Rangel parece ter para a Europa não é aquele que eu gostava de ver seguido e, ao fim e ao cabo, o voto deveria reflectir isso.
Não que haja necessariamente um partido em Portugal que tenha uma visão europeísta com a qual eu concorde. Também não posso dizer que não há, não conheço todos os programas a fundo, mas no próximo domingo perfila-se o cenário em que isso não me interessará por aí além.
A verdade é que, devido a uma muito especial conjuntura, as próximas eleições serão uma espécie de pré-sufrágio a Sócrates. Não tenho visto telejornais, mas oiço que ele se teve de envolver a fundo na campanha e, mesmo que não o tivesse feito, o próprio tom da campanha está focado em Portugal e não na Europa.
Se os resultados avançados por esta sondagem se confirmassem teríamos o caso em que uma vitória do PSD criaria a folga necessária para retirar ao PS o governo nas próximas eleições legislativas. Devido ao actual modelo europeu isso ainda é mais importante do que escolher quem nos representará naquele parlamento em Bruxelas de que poucos portugueses têm notícias. Um centro de decisão que é, apesar de tudo, bastante importante para Portugal e ao qual temos, por norma, muito pouca atenção.
Há muitos votos úteis no próximo Domingo. A decisão, pelo menos para mim, deixou só de ser ideológica ou de príncípio e passou a ser também calculista e racional. Devíamos todos pesar isso antes de votar. Eu, pelo menos, tentarei.

sábado, 30 de maio de 2009

Pelo Direito ao TGV!

É este magnífico dito que adorna vários cartazes da Juventude Socialista, espalhados por toda a Lisboa. Infelizmente, não consegui encontrar nenhuma fotografia do dito cartaz que postula tamanhas barbaridades, mas qualquer condutor ou transeunte que passe pela Alameda da Cidade Universitária por estes dias será presenteado com uma afirmação cujo autor, se mantivesse um mínimo de honestidade intelectual, justificaria a sua criação com um passeio do gato pelo teclado do computador, para não dizer algo pior e não emitir juízos de valor sobre a sanidade mental do próprio autor.

O direito ao TGV, devem pensar os jotinhas neo-marxistas, é um direito essencial. Todos nós, os jovens, os velhos e todos os que estejam no meio, temos direito a um projecto megalómano que foi decidido antes sequer de se levar a cabo qualquer tipo de análise custo-benefício (tal como o aeroporto, já agora, mas as implicações económicas, sociais e políticas dos dois projectos são totalmente diferentes, e isso agora não interessa para nada). Análise essa cujo concurso para a sua elaboração tem início cerca de 1 ano depois do projecto ter já sido confirmado publicamente. Tendo tido algumas cadeiras de política económica aplicada na minha licenciatura, tudo isto me parece muito estranho: mas então as análises custo-benefício não deveriam ser elaboradas com o intento de aprovar ou rejeitar um determinado projecto público? Assim sendo, o caso particular do TGV (e do Aeroporto) podem ser utilizados como fundamentos empíricos para duas teorias, alternativas mas não incompatíveis:
  1. Aquilo que se aprende nas universidades não passam de tretas teóricas, que não interessam sequer ao Menino Jesus (com todo o respeito para com este último).
  2. Estes senhores (os que confirmaram politicamente o TGV) nunca estiveram na universidade, ou se lá estiveram, não aprenderam nada. Ou talvez nunca tenham trabalhado numa empresa, fora da função pública, onde, tal como as torres de marfim teóricas das universidades enunciam, projectos deverão ser unicamente aprovados se os benefícios sociais excederem os custos sociais. Mas, e agora paremos um momento para pensar, não é para isto que uma análise custo-benefício serve?
Hoje, dia 30 de Maio de 2009, existe uma análise custo-benefício sobre o TGV. Não é um documento público. Foi encomendada pela RAVE (Rede de Alta Velocidade, a entidade gestora do projecto do TGV) a dois economistas portugueses que, não obstante não residirem em Portugal, são bem conhecidos nos meios académicos e universitários como sendo especialistas em análise de projectos públicos. Note-se que, se deste ponto em diante eu puder começar a dizer coisas um pouco menos simpáticas, não estou a colocar a honestidade intelectual e integridade académica destes dois senhores que elaboraram o estudo. Os seus méritos são amplamente reconhecidos internacionalmente. Colocarei em causa, contudo, todos os valores e tramas que pautaram toda a elaboração desta análise, do princípio ao fim. Ora, comecemos a dissecar o bicho.
  1. Como foi já referido, o concurso para a realização da análise custo-benefício é lançado depois (e aqui não interessa se foi uma hora ou dez anos) da decisão política ter sido tomada. Conhecem algum país não-africano onde coisas destas aconteçam?
  2. O concurso passa para as mãos da RAVE. Ora, quem é a RAVE? É um punhado de tecnocratas, engenheiros e economistas cujas actuais posições, na RAVE, dependem da realização do projecto do TGV. Por outras palavras, se não há TGV, não há RAVE, e se não há RAVE não há reformas e regalias para ninguém. Alguém sente o cheiro a queimado?
  3. RAVE encomenda então o estudo aos dois eminentes economistas acima mencionados. Estudo é realizado e "publicado" (como disse acima, não é público). Se foi sujeito a revisões por parte da RAVE, não sei, mas sinceramente gostaria de saber. Isto pois, aludindo ao ponto 2), não faria sentido à RAVE publicar uma análise que se opusesse à realização do TGV.
  4. Tive oportunidade de ler a análise. É uma análise bastante completa, realizada com a metodologia apropriada. Falha apenas num punhado de pontos: são tidas em conta hipóteses que, tivesse-as eu considerado num trabalho de 1º ou 2º ano de licenciatura e teria reprovado à cadeira. E são hipóteses cruciais para a avaliação do projecto: a criação de cerca de 60 mil postos de trabalho (caídos de onde, martelar a linha do comboio?), retornos fiscais de 64 mil milhões de euros em receitas (que ainda não percebi de onde vêm), e lamirés afins.
Tudo isto considerado, penso que, de facto, os jovens portugueses dever-se-iam unir em torno da JS para defender um direito essencial: o direito a maus projectos públicos, realizados da forma menos transparente possível, que geram receitas fiscais saídas da cartola, assim como dezenas de milhares de postos de trabalho sem ninguém saber como. Projectos que resultam de "compromissos políticos", ao invés de análises sérias de impacto em termos económicos e sociais. Projectos que aumentam a já galopante dívida externa portuguesa, permitindo depois a cada cidadão pagar €100 para ir de comboio a Madrid (esperem, não posso já fazer isto de avião?). Pelo direito a estes projectos!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Mas não se passa nada?


É assim, isto posso ser só eu que vejo as coisas com grande distância, mas acho que já sentia isto quando andava aí por esses quilómetros quadrados. A questão é: sou só eu que não acho normal o que se passa em Portugal?
Acusa-se gente sem provas, inocenta-se gente com provas, bastonários da ordem dos advogados que se portam como peixeiras do mercado do bulhão, o povo a assobiar e a dizer que isto tá tudo doido e que "qualquer dia...". Mas é só a mim que isto preocupa?
É que dói um bocado sair deste blog, olhar em volta e ver o resto dessa gente da minha idade a querer é pouca confusão, nada de altercações. Gente sem esperança, gente sem ideias, gente egoista que nem discutir o seu país quer. É que eu já não peço juízo, já não peço liberais, já não peço menos impostos. Eu já só peço interesse.
Minha gente: As instituições não se fazem sozinhas. Se os futuros mais altos quadros desse país aos 20 anos já perderam a esperança, o que é que estarão lá a fazer aos 40? Rapaziada, é hora.

É que juro que me irrita solenemente as pessoas que se demitem de se preocuparem sequer. O país está entregue a um gajo sob suspeita de ter comprado o curso, assinado projectos que não fez e de ter lesado o interesse público em troca de benefícios pessoais? Who cares?
Esta gente que me rodeia não é, concerteza.

P.S. Queria já agora deixar aqui umas palavrinhas sobre esta notícia: http://www.ionline.pt/conteudo/6593-manuel-pinho-considera-que-empresarios-estao-reagir-bem-crise.
Sr. Ministro, se os relatos que me chegam de Portugal em relação ás PME são verdadeiros, por favor, demita-se. É que isto já não é piada, é insulto.